Basta acessar a internet e pesquisar notícias sobre o Festival de Cinema de Cannes deste ano para perceber que pouco se vê nas fotos de tapete vermelho, entre os diretores e produções apresentadas, a presença expressiva de trabalhos de pessoas negras. O Festival, que pensa ter inovado ao escolher a talentosa Greta Gerwig, que dirigiu o filme ‘Barbie’, como presidente do júri, pouco fez para que essa mesa e o evento tivessem a representatividade necessária para ser uma referência mundial.
Apenas uma pessoa negra integra o time de jurados, o ator francês Omar Sy, protagonista da série ‘Lupin’, transmitida pela Netflix. Apesar de muito importante, uma única presença negra entre aqueles que decidem o filme que levará a ‘Palma de Ouro’ para casa torna o festival um apartidário das questões étnico-raciais que dizem respeito ao grupo que é majoritariamente favorecido dentro e fora da indústria do cinema: o branco.
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Colocar mulheres brancas no júri não remediará a falta de representação feminina, afinal, enquanto mulheres negras, como isso nos empodera? Como mostra que também produzimos, dirigimos e protagonizamos trabalhos de excelência no cinema? Questionar nossa presença em todos os espaços continua a ser fundamental quando vemos retroceder ações que tinham como objetivo promover a equidade racial.
A morte de George Floyd, em 2020, gerou comoção para levar a diversos setores sociais as políticas de Diversidade & Inclusão, e isso diz respeito também ao Festival de Cannes, que em 2020 teve seu júri presidido por um homem negro pela primeira vez, quando Spike Lee foi escolhido para o cargo. A nomeação de Lee deu início ao que gostaríamos que fosse, um movimento permanente. Considerando que o que se viu nos anos seguintes foi o ator Forest Whitaker ser homenageado de forma honorária a Palma de Ouro, e a atriz Viola Davis ser homenageada com o prêmio ‘Women In Motion 2022’. Em 2023, Ava Duvernay foi a primeira diretora negra a competir na mostra em seus 80 anos de existência.
Em passagem pelo Brasil durante o Festival Feira Preta, que aconteceu nos dias 3, 4 e 5 de maio no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, a jornalista norte-americana, Cori Murray, que tem dedicado seu trabalho à promoção de narrativas negras, denunciou que depois da morte de Floyd, “houve uma onda de promessas corporativas de apoio às comunidades negras, com empresas prometendo coletivamente $49.5 bilhões”, mas o que se viu na realidade foi que “Até 2021, apenas cerca de $1.7 bilhão foi realmente desembolsado. Isso mostra uma diminuição dos investimentos em projetos negros no campo audiovisual e outras áreas.”, conforme matéria publicada pela jornalista Silvia Nascimento.
O que esperamos é que a mudança e as motivações sobre a representatividade negra não sejam apenas uma promessa feita no calor da emoção. Queremos mudanças reais, sem que um de nós precise morrer para que elas aconteçam.