
Na manhã desta quarta-feira (30), durante a abertura da 15ª Conferência Municipal de Saúde de Cuiabá, um episódio de forte repercussão política e social marcou o evento realizado no Hotel Fazenda. O prefeito Abilio Brunini (PL) expulsou a professora e doutora em Saúde Pública Maria Inês da Silva Barbosa, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), após ela usar o pronome neutro “todes” em sua fala.
A palestra, intitulada “Consolidar o SUS: Com a Força do Povo, Participação Social e Políticas Públicas”, tinha como objetivo discutir o acesso universal e igualitário ao Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, a utilização do pronome neutro por Maria Inês durante a apresentação gerou uma intervenção do prefeito, que acusou a professora de fazer “doutrinação ideológica” e ameaçou suspender sua fala caso continuasse a usar esse tipo de linguagem.
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— Aqui na capital Cuiabá, durante a minha gestão, não vou aceitar a manifestação de pronome neutro, não vou aceitar a doutrinação ideológica. Se a gente for discutir a saúde da cidade, vamos fazer conforme as nossas regras — afirmou Brunini, sob vaias e gritos da plateia.
Em resposta, Maria Inês afirmou que o uso de “todas, todos e todes” é uma forma de reconhecer e incluir todas as pessoas, especialmente aquelas que fazem parte da população LGBTQIA+. Ela ressaltou que sua fala tratava de políticas públicas e do direito ao acesso universal à saúde, e não de política de governo.
— Quando eu falo de equidade, eu tenho que considerar todos, todas e todes, porque essas pessoas têm voz. O acesso universal e igualitário é para todas, todos e todes — disse a professora, antes de se retirar da mesa.
A saída da pesquisadora foi marcada por um momento de tensão no evento, enquanto o prefeito mantinha sua posição sobre a proibição da linguagem neutra em espaços oficiais.
Além do episódio envolvendo Maria Inês, a programação da conferência também contou com a participação do deputado federal Osmar Terra, ex-ministro do Desenvolvimento Social durante o governo Michel Temer e conhecido defensor do uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19, medicamento sem comprovação científica para a doença.
A Prefeitura de Cuiabá, em nota oficial, reforçou a determinação do prefeito de proibir o uso de linguagem neutra em eventos e espaços institucionais patrocinados pelo poder público municipal. A justificativa oficial foi a preservação da norma culta da língua portuguesa e a manutenção da neutralidade ideológica nas ações públicas.
O caso expõe o preconceito ainda enraizado em gestões públicas e levanta questionamentos importantes sobre o respeito à diversidade, pluralidade e inclusão nos espaços institucionais no Brasil.
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