Movimentando mais de US$ 2,5 trilhões em vendas anuais no mundo inteiro, incluindo vestuário, acessórios, design e mídia, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento de 2022, até que o produto chegue nas mãos do consumidor, a produção do mercado de moda, em especial de vestuário, precisa passar, essencialmente pelas mãos de profissionais que dão forma e acabamento ao produto. Nesse grupo estão as costureiras, que têm em sua história a luta por direitos trabalhistas e a condução da cultura ancestral do vestir.
Apesar do histórico valorizado, o reconhecimento financeiro não chegou para a maioria delas, de acordo com a pesquisa nacional recente “Costureiras Autônomas de Reparos de Roupas”, realizada pela Aliança Empreendedora e apoiada pela coalizão de parceiros de Moda Justa Sustentável. Segundo os dados, 78% das costureiras autônomas especializadas em reparos de roupas no Brasil se identificam como negras (pardas e pretas). Essa representatividade racial reflete a importância histórica e atual dessas mulheres na cadeia de moda, enquanto destaca os desafios enfrentados por elas em um setor ainda marcado pela informalidade e precariedade.
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A pesquisa destacou que 69% das costureiras negras autônomas sentem-se sobrecarregadas. Muitas trabalham sozinhas e em condições de informalidade, com 62% atuando sem qualquer formalização de seus negócios, apesar de 66% delas se considerarem empreendedoras. Além disso, 90% das participantes moram e trabalham no mesmo local, refletindo a dificuldade em separar a vida profissional da pessoal. Das formalizadas, 36,4% são registradas como MEI (Microempreendedor Individual) e apenas 1,4% como ME (Microempresa), índices de formalização ainda abaixo da média nacional de 45%, de acordo com o Monitoramento de Empreendedorismo Global, realizado em 2022.
As questões de saúde são frequentes: metade das entrevistadas relatou enfrentar problemas de saúde relacionados ao trabalho. A sobrecarga de responsabilidades, com 43% trabalhando diariamente e 36% folgando apenas um dia por semana, acentua a precariedade do trabalho, além de destacar que muitas delas atuam em ambientes inadequados para a realização do trabalho.
O estudo, que envolveu 140 respostas válidas de costureiras de 21 estados do Brasil, foi realizado em duas fases: uma quantitativa com questionários online e uma qualitativa com entrevistas semiestruturadas. A fase qualitativa revelou que todas as participantes se identificaram como negras, evidenciando uma realidade marcada pela dupla jornada de enfrentamento da desigualdade racial e de gênero.
Costureiras negras: pilares invisíveis da moda
A representatividade de costureiras negras autônomas na moda não é apenas uma estatística; ela reflete uma longa tradição de mulheres que têm sustentado o setor desde os tempos coloniais. Historicamente, as costureiras negras têm sido a espinha dorsal da moda popular e da alta-costura, contribuindo com habilidades artesanais transmitidas por gerações. No entanto, o estudo revela que a visibilidade e a valorização desse trabalho continuam a ser desafios significativos.
Cristina Filizzola, líder de projetos e presidente da Aliança Empreendedora, enfatiza a importância de reconhecer essa contribuição: “As costureiras negras têm desempenhado um papel crucial na cadeia de moda, mas muitas vezes são invisíveis e pouco valorizadas. Nosso estudo visa trazer luz a essa realidade e promover políticas públicas que reconheçam e apoiem essas profissionais.”
Luta por reconhecimento e capacitação
Apesar das adversidades, a paixão pela costura é um traço marcante. A maioria das costureiras, 90%, declarou trabalhar com costura por amor, sendo que 71,2% afirmaram amar a profissão e depender da renda gerada. No entanto, 62% das costureiras negras autônomas ganham menos de um salário mínimo, e 85% estão abaixo da faixa salarial de costureiras formalmente contratadas. Essa precariedade financeira é agravada pelo fato de que 46% das entrevistadas têm a costura como principal fonte de renda familiar, e quase 22% sustentam suas famílias exclusivamente com essa atividade.
O estudo também revelou que 97,5% das costureiras têm sonhos relacionados à costura, como ter seu próprio ateliê ou espaço de trabalho. Para alcançar esses objetivos, 83% buscam capacitação em gestão de negócios e 91% em técnicas de costura, principalmente por meio de recursos online. No entanto, a participação em redes de apoio ainda é baixa, com apenas 18% acessando cursos gratuitos e tendo contato com outras profissionais para troca de experiências, o que indica um ambiente de trabalho solitário e isolado.
Necessidade de políticas públicas inclusivas
O trabalho das costureiras autônomas ainda necessita de políticas públicas específicas, que contemplem o apoio para o investimento em especialização e estrutura para que essas mulheres, em sua maioria, negras, possam trabalhar com mais dignidade, qualidade e saúde. Garantindo, assim, o apoio necessário para jornadas de trabalho mais saudáveis, que possibilitem que elas possam organizar sua rotina, que muitas vezes é dividida entre os cuidados da casa e dos filhos e a atividade profissional.
A coalizão de Moda Justa Sustentável, composta pelo Instituto C&A, Instituto Lojas Renner, Instituto SYN, Abit e ABVTEX, apoia a Aliança Empreendedora desde 2021. O objetivo é promover trabalho digno na cadeia de confecção-têxtil e fortalecer a presença e o reconhecimento das mulheres negras na moda.
Conteúdo criado em parceria com: Instituto C&A
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