
Por Luciano Ramos, Consultor Masculinidades & Paternidades, Autor infantil “Quinzinho”
Em tempos de superficialidade e discursos prontos, há figuras que escapam do óbvio. Paulo Vieira é uma delas. Mais que comediante ou apresentador, ele é um verdadeiro showman — um artista completo que domina o tempo do humor como poucos, mas que também carrega, em cada gesto e palavra, uma profunda consciência racial, social e afetiva.
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Assistir a Paulo Vieira é mergulhar em várias camadas da experiência negra brasileira. Seu humor não é escapismo. É denúncia, é afeto, é inteligência. É um riso que muitas vezes nasce da dor — mas que não se encerra nela. Paulo tem o tempo perfeito da piada, mas, ao mesmo tempo, tem a alma no tempo histórico do povo negro neste país. Ele sabe de onde veio, e sabe o peso e a beleza de ser um homem negro que ocupa o centro do palco.
Em suas falas públicas, como no recente episódio do podcast Mano a Mano com Mano Brown, Paulo deixa claro que sua masculinidade é construída com consciência e vulnerabilidade. Ele recusa a armadura da força bruta e fala das dores que carrega, das pressões que sofreu, da solidão e da sensibilidade. Sua trajetória evidencia que ser um homem negro é resistir a estereótipos impostos, mas também afirmar uma nova forma de existir: mais inteira, mais livre, mais potente.
Outro traço marcante de Paulo é sua paixão pelo Brasil. Mas não um Brasil folclórico e raso — ele ama o Brasil profundo, que descobriu nas viagens que fez pelas beiras, pelos interiores, pelos corpos e sotaques invisibilizados. Paulo narra o país real, sem purpurina, mas cheio de graça, afeto e memória. Sua arte é um espelho invertido: mostra quem somos e quem ainda podemos ser.
E há ainda um elo que Paulo faz questão de resgatar: sua relação com o continente africano. Ao invés de transformar a África num símbolo genérico de ancestralidade, ele a reconhece como presença viva, como horizonte, como força que funda sua identidade. Não se trata de uma África romântica, mas de uma África concreta, sentida, visitada, vivida — que pulsa em sua espiritualidade, no modo como pisa o chão, no respeito que tem por quem veio antes.
A religiosidade de Paulo também é um capítulo à parte. Ele fala da fé como retorno, como reencontro com raízes, como reencontro com sua avó e com a sabedoria popular que o formou. Em tempos de intolerância e mercantilização da fé, Paulo a recoloca no lugar de potência ancestral e cuidado.
Paulo Vieira é um corpo político em movimento. Um homem negro que ocupa com dignidade e talento o centro da cena — e que, ao fazer isso, abre espaço para tantos outros. Ele é riso, mas também crítica. É leveza, mas também firmeza. É Brasil — do jeito que ele é, do jeito que a gente precisa enxergar.
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