Um dos destaques do Festival LED – Luz na Educação, que começou na última sexta-feira, 16, a socióloga norte-americana Patricia Hill Collins, pioneira nos estudos de intersecção falou sobre ter entendido que as escolas comunitárias para alunos segregados que ajudou a criar nos EUA poderiam ser comparadas aos quilombos no Brasil. “Quando vim para o Brasil e encontrei o termo Quilombo percebi que era isso que estávamos fazendo”, disse ela.
Durante a palestra intitulada “Educação crítica: uma janela para novas possibilidades”, Patricia Hill Collins compartilhou sua jornada na educação e discutiu como a educação crítica é essencial para a construção de sociedades democráticas e equitativas, fazendo referência à obra “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire.
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A professora ressaltou sua própria experiência pessoal ao afirmar: “Eu sou a primeira pessoa da minha família a se formar na faculdade”. Hill Collins contou que seu trabalho na educação faz parte de um esforço coletivo intergeracional. “Isso é um esforço intergeracional. Uma pessoa de cada vez, de adquirir as habilidades e visão de mundo para seguir em frente”, disse.
Ela compartilhou sua motivação inicial para se tornar professora e a surpresa em relação ao alcance que a educação teve em sua vida: “Eu sabia que eu queria ser professora, mas eu não sabia o quão longe ser professora me levaria. Tudo o que eu sabia é que eu queria que a educação fosse diferente do que eu tinha tido”.
Patricia Hill Collins revelou que foi atraída pela filosofia da educação presente em “Pedagogia do Oprimido”, especialmente pela ideia de entender as relações de poder como base para a ação política. A professora norte-americana detalhou sua experiência ao ajudar a estruturar movimentos de escolas comunitárias dedicadas a alunos negros segregados e com o trabalho no centro educacional St Joseph’s Community School.
“Concentramos forças em conter a opressão racial. Naquela época, os alunos que recebiam nota “A” sentavam na frente e os com notas menores, atrás. Todos os considerados ruins eram negros. Achei isso um contexto de hierarquia social horrível, e começamos juntos a mudar: propus que todos sentassem em círculos e eles ficaram espantados”, revelou.
Além da referência na filosofia de Paulo Freire, a socióloga comparou o trabalho realizado nas escolas americanas ao que era feito nos quilombos no Brasil. “Quando vim para o Brasil e encontrei esse termo ‘quilombo’ eu percebi que era isso que estávamos fazendo”, contou. “Essa noção desse espaço livre num contexto de opressão, em que você controla, você decide. Que você não pode botar a culpa em ninguém necessariamente”, explicou.
Durante a palestra, a socióloga também abordou a luta pela inclusão dos estudos negros no ensino superior, ressaltando que foram os alunos negros que iniciaram esse movimento. Ela enfatizou a importância de reivindicar o poder epistêmico por meio de obras como “O pensamento feminista negro”, em que escreveu sobre mulheres negras. Patricia Hill Collins enfrentou o desinteresse e o ceticismo acadêmico em relação a esse campo de estudo, com pessoas questionando a relevância das vivências das mulheres negras.
“O que tentei fazer com ‘O pensamento feminista negro’ foi reivindicar o poder epistêmico. Eu escrevi sobre mulheres negras. Ninguém se interessava sobre mulheres negras na academia. As pessoas riam. ‘Porque a gente deveria se importar com essas mulheres?'”, relembrou ela.
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