
O aquecimento do varejo brasileiro neste mês de abril, impulsionado pelo movimento típico da Páscoa, vem acompanhado de incertezas e expectativas instáveis. A projeção da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) é otimista: espera-se um crescimento de até 12% nas vendas em comparação com o ano passado. No entanto, os resultados negativos da Páscoa de 2024 — com queda de 5% no comércio varejista, segundo o Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA) — ainda reverberam no setor e trazem um clima de cautela para 2025.
Com os preços dos insumos nas alturas – o cacau, por exemplo, subiu incríveis 189% só em 2024, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) – fica difícil manter o otimismo. Isso sem falar na sensação de aperto no bolso que só aumenta: segundo o Radar FEBRABAN, em março deste ano, 89% dos brasileiros já percebiam a inflação como algo presente no dia a dia – o maior índice em mais de dois anos.
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A empreendedora Cynthia Paixão, fundadora da Afrocentrados Conceito, atua com curadoria de marcas e negócios afrocentrados e sente de perto esse impacto. “Os dias de festividade do nosso calendário são ações que vão além do entretenimento familiar. Estamos falando de atividades que movem polos econômicos e culturais, de tamanha amplitude que mexe com todas as regiões do país, nos mais diversos setores. Temos uma predisposição a acreditar que a Páscoa só afeta o varejo e não é verdade. Microempreendedores de todos os departamentos têm a chance de impulsionar seus negócios nesta data, porém estamos enfrentando uma sensação de desânimo sem precedentes”, pontua.
Ela destaca que, apesar de existir uma previsão de aumento nas vendas este ano, os obstáculos não são poucos. “O problema em si está em observarmos um mercado que, embora existam expectativas positivas de 5% para as vendas este ano, está defasado pelos arredores: insumos caros, poder de compra baixo e políticas tarifárias nacionais e internacionais recordes. Até o pacote de tarifas de importação do Donald Trump anunciado recentemente, nesta quarta-feira, já mexe com o quadro da inflação mundial. Todo o comércio consequentemente sofre. Até mesmo uma data celebrativa como a Páscoa”, completa.
Para Cynthia, a saída está na estratégia. Ela defende a importância de parcerias sólidas com fornecedores e a disputa por preços melhores como caminhos para driblar a crise. “Diante da ampla concorrência e alta nos insumos, os microempreendedores (principalmente) precisam estar sempre um passo à frente quando o assunto é finanças. A modalidade a granel de compras vem sendo um obstáculo para quem quer descontos em produtos para revenda ou serviço. Empresários dos mais diversos setores vêm se enlaçando nas falácias das ‘vendas de urgência’, comprando insumos caros e vendendo produtos/serviços baratos — em virtude da redução do poder de compra nacional; a fim de compensar um mês fraco nas vendas”.
A fala da especialista dialoga diretamente com o levantamento do Radar FEBRABAN, que revela como “o acesso ao crédito” predomina uma mínima percepção de estabilidade ou melhora para o brasileiro, mantendo-se em 35% de aprovação, contra 32%.“A prospecção do acesso a linha de crédito é o sonho de todo empreendedor. Poder investir em seu negócio e aproveitar as facilidades a longo prazo casam perfeitamente com a possibilidade de solicitar dispensas, ao menos, bimestrais de insumos, evitando fazer vendas que não tenham retorno líquido, no caso da compra de produtos a granel”, conclui.
Até o dia 20 de abril, data da Páscoa de 2025, os consumidores e empresários intersetoriais ainda poderão perceber as mudanças no mercado. A festividade considerada um “segundo Natal” para varejistas e afins, tornou-se uma data comercial incerta e desestimulada neste ano. Essa onda afeta não apenas os setores diretamente ligados à alimentação que sofrem: decoração, papelaria, turismo, bebidas, perfumarias, floriculturas e o artesanato criativo.
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