Em uma entrevista especial ao Mundo Negro, em celebração ao Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, neste 25 de julho, a atriz Neusa Borges, com 82 anos, sendo 67 de carreira artística e mais de 100 personagens interpretados na televisão, cinema e peças teatrais, compartilhou a sua satisfação em continuar trabalhando muito e conquistar novos papéis.
Com a agenda cheia, só em 2024, a veterana já estrelou a segunda temporada da série “Encantado’s” e o filme “A Festa de Léo” nos cinemas. Mas ainda há muitos projetos a serem lançados, como o filme italiano “Educação da Avó” como Dona José, uma das protagonistas da trama, com cenas gravadas na Itália e no Rio de Janeiro, ao lado de outros grandes nomes como Anna Galiena e Nicola Sir.
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Recentemente, ela realizou o sonho ao gravar uma personagem no filme “Uma Babá Gloriosa“, que ainda não tem previsão de lançamento. “Eu acho que já fiz tudo. O meu sonho sempre foi fazer uma freira. Eu terminei [recentemente] de gravar a freira, a mãe da Cleo Pires. Olha que chique”, celebra.
“Eu já fiz até personagem que eu acho que para mim é imaginário. Porque ter feito uma pomba-gira na novela Carmem, eu nem sei como é que eu fiz aquele trabalho, porque eu não frequento centro [de religiões de matriz africana]. Acho que é uma personagem abstrata. Por que quem já viveu para dizer ‘eu sou uma pomba-gira?’ E eu consegui fazer”, relembra de seu grande sucesso na novela da TV Manchete, em 1987.
Neusa também afirma que cada papel é como se fosse o primeiro. “Eu sempre converso sobre isso com os diretores. Eu não sei se eu vou conseguir fazer o que o autor quer, porque cada um tem sua cabeça. Então, eu prefiro ser dirigida. […] Eu sempre digo que sou péssima para ensaiar. Mas, quando eu escuto a palavra ‘ação’, ‘gravando’, eu não sei o que acontece, que eu entro e sempre deu certo e vai dar certo”, declara.
“Eu sempre acho assim, papai do céu não me pôs ao mundo para ser advogada, para ser dentista. Ele falou que ia colocar essa nega lá embaixo para ela ser artista. Então, para mim, o importante sempre é o trabalho. E vai ser sempre, eternamente, como se eu tivesse fazendo o primeiro papel. Eu fico muito nervosa, me dá desespero, me dá dor de barriga, me dá suadeira”, relata a atriz.
“Eu sempre me lembro do [ator] Mário Lago. Ele dizia que ele também passava por essa situação. Então, no dia que eu deixasse de passar por tudo isso, era melhor parar, porque é só uma coisa mecânica, não sente nada. E eu faço com garra, eu faço com amor, eu me dedico àquele trabalho. Então, todos [os personagens] que eu fiz até hoje foram muito difíceis, mas deram certo. O que eu posso fazer? É coisa de Deus, só pode ser”, completa.
Em 2023, Neusa Borges conquistou o seu primeiro kikito, como Melhor Atriz Coadjuvante pelo trabalho em “Mussum, O Filmis“, no Festival de Cinema de Gramado, um grande feito para a carreira. Mas ela destaca que não se importa com prêmios.
“Essa coisa que te chamam de maravilhosa, ícone de televisão, de rádio, de cinema. Eu não ligo para nada dessas coisas. Eu ligo para que me chamem para trabalhar. Isso, para mim, é muito mais importante do que prêmio”, afirma. “Eu continuo trabalhando de noite para comer de dia, trabalhando de dia para comer de noite. Então, a minha vida é a mesma. Eu não mudei em nada”, completa.
Ao refletir sobre as mulheres negras da televisão, Neusa Borges destaca: “A minha deusa, a minha inspiração, o meu tudo sempre será Léa Garcia e Ruth de Souza“.
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