Vários anos se passaram desde as colonizações, mas parece que ela ainda deixa alguns rastros nos dias atuais. Nesta semana, a família real britânica se recusou a devolver os restos mortais de um príncipe africano para os seus descendentes na Etiópia. O governo etíope tenta repatriar o corpo há 150 anos.
O príncipe Alemayehu foi capturado pelo Reino Unido em 1868, junto com sua mãe que não resistiu à viagem até as terras inglesas, após a Rainha Vitória dominar sua terra natal. Ele viveu por 10 anos infeliz na Grã-Bretanha e morreu aos 18 anos.
Notícias Relacionadas
Netflix anuncia documentário sobre trajetória de Mike Tyson
ONU lança Segunda Década Internacional de Afrodescendentes com foco em justiça e igualdade
O corpo do príncipe etíope foi enterrado no Castelo de Windsor a pedido da Rainha. O castelo faz parte das residências reais do atual Rei do Reino Unido, Charles III, e é um local tradicional de funerais e casamentos reais.
Há anos o governo da Etiópia tenta repatriar os restos mortais e os artefatos que foram levados pelos ingleses, mas o pedido foi recusado diversas vezes. Agora, com a coroação do novo rei, houve mais um pedido recusado.
Um dos descendentes reais de Alemayehu, Fasil Minas, disse ao BBC que “não era certo” ele ser enterrado no Reino Unido. “Queremos seus restos mortais de volta como família e como etíopes, porque esse não é o país em que ele nasceu”, disse Fasil Minas.
Mas segundo um comunicado enviado à BBC pelo Palácio de Buckingham, a retirada dos restos mortais afetaria os outros enterrados no local, na Capela de São Jorge. “É muito improvável que seja possível exumar os restos mortais sem perturbar o local de descanso de um número substancial de outras pessoas nas proximidades”, disse o porta-voz do palácio.
Segundo o porta-voz, as autoridades da Capela gostariam de honrar a memória do príncipe, mas há a “responsabilidade de preservar a dignidade do falecido.”
“Ele teve uma vida triste. Quando penso nele, choro. Se eles concordarem em devolver seus restos mortais, pensarei nisso como se ele voltasse vivo para casa”, disse Abebech Kasa, também descendente real do príncipe.
A captura de Alemayehu aconteceu após seu pai, o imperador Tewodros II, tentar uma aliança com a Rainha Vitória, em 1862, mas não obteve retorno, o que acabou dando início a uma crise diplomática. Anos depois, em 1868, soldados britânicos invadiram Maqdala, no norte da Etiópia, que levou ao suicidiou do imperador.
Após a vitória, os soldados saquearam artefatos – coroas de ouro, manuscritos, colares e vestidos – e tudo que era de valor. Levaram para as terras da rainha, onde até hoje se encontram espalhados em diversos museus e aposentos reais.
Para Andrew Heavens, autor do livro “The Prince e o Plunder”, que fala sobre a vida de Alemayehu e o ataque britânico na Abissínia, esta é uma questão “emocional”, por ser uma criança que nunca foi autorizada voltar para casa.
“Emocionalmente, a maioria das pessoas que conhece a história de Alemayehu sente que seus restos mortais devem ser devolvidos. Ele deixou tão claro antes de morrer que queria voltar”, falou à NBC News.
Segundo os relatos, o príncipe e sua mãe foram levados para o Reino Unido por “temerem” a segurança deles nas terras recém-invadidas por eles. Chegando lá, Alemayehu conheceu a Rainha Vitória que simpatizou com o órfão e ajudou financeiramente, mas sua vida lá foi infeliz.
Ele foi para uma escola pública de Rugby, onde não se adaptou. Depois foi transferido para o Royal Military College, em Sandhurst, onde sofria bullying. Até que teve que receber aulas particulares.
“Sinto por ele como se o conhecesse. Ele foi deslocado da Etiópia, da África, da terra dos negros e permaneceu lá como se não tivesse casa”, contou Abebech.
Segundo Heavens, o príncipe tinha o desejo de voltar para casa, o que não foi concebido. Ele pegou pneumonia e depois de um tempo se recusou a se tratar. Em 1878, morreu aos 18 anos.
A Rainha, que simpatizava com o jovem, se pronunciou em seu diário sobre a morte dele. “Muito triste e chocada ao saber por telegrama que o bom Alemayehu faleceu esta manhã. É muito triste! Sozinho, em um país estranho, sem uma única pessoa ou parente pertencente a ele”, lamentou Vitória.
“Sua vida não foi feliz, cheia de dificuldades de todo tipo, e era tão sensível, pensando que as pessoas olhavam para ele por causa de sua cor… Todos lamentam muito”, logo após, ela providenciou seu enterro na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor.
Notícias Recentes
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas
Leci Brandão celebra 80 anos e cinco décadas de samba em programa especial da TV Brasil