
Você tem lido as histórias de nossas ancestrais negras? Ou pelo menos tem conversado com mulheres negras que vieram ao mundo antes de você ?
Neste 25 de julho, data que celebra-se o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, é importante reforçarmos o protagonismo desempenhado por elas em nossas vidas.
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Esses dias li uma frase da educadora Makota Valdina: “Ação social, aprendi a fazer com a minha mãe: ela era parteira, se metia em clubes de mães, organizava as mulheres, fazia grupos para solicitar água, solicitar luz. Ela era semianalfabeta”. Lembrei da minha mãe, que no passado atuou tanto coletivamente no bairro. Ela chegou a São Paulo nos anos 70, fugindo da exploração dos patrões da cidade onde morava, em Minas Gerais. Na realidade, a cidade tinha pouco a oferecer no campo profissional para as pessoas pobres. Ou você é explorado no campo, ou em “casa de família”. Às vezes, os pais entregavam os filhos para trabalharem em troca de um prato de comida. Pode parecer absurdo, mas era assim que as coisas funcionavam. Suspeito que essa prática ainda persista.
Em São Paulo, considerada terra dos sonhos, poucas coisas mudaram para a minha mãe. O sofrimento continuou sendo a indesejável companhia. Dona Helena mal conseguia escrever o próprio nome, mas sabia manipular o pouco dinheiro que ganhava como ninguém. A escassez não atenuava a sua sede de sobrevivência. E da mesma forma que a mãe de Makota Valdina, e como tantas outras mulheres negras periféricas, utilizou a coletividade como resistência para não dobrar os joelhos diante do racismo estrutural. Quando penso nisso, observo que a comunhão das novas gerações está em decadência entre os desafortunados. Suponho que os instrumentos de dominação estejam mais sofisticados. Outra mulher negra, também mineira, como a Dona Helena, que vivenciou muitas agruras em São Paulo, foi a escritora Carolina de Jesus. A sua obra “Quarto de despejo: Diário de uma favelada” explicita de maneira sensível e honesta a dinâmica da vida na favela, nos anos 50.
Ao revisitarmos a história da população negra no Brasil, constatamos muitos pontos em comum. Com a abolição da escravidão, ela perdeu a condição de mercadoria, ingressou no mercado de consumo e conquistou a autonomia para comercializar a sua força de trabalho. Tristemente, nada disso garantiu que obtivesse menos sofrimento. E, mesmo soando inalcançável a eliminação do racismo, não podemos prescindir da organização. A lição de coletividade é a nossa bússola, precisamos colocar em prática. Sozinhos, as dores são insuportáveis.
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