*Por Kelly Baptista
Durante o avanço da pandemia, vimos várias manchetes nos veículos de imprensa que nos mostravam que os muito ricos levaram poucos meses para se recuperar dos impactos da Covid-19 e as fortunas dos bilionários foram dobradas. Por outro lado, a pesquisa Ativismo e Pandemia no Brasil, realizada pelo Fundo ELAS+, nos chama a atenção para o fato de que este período prejudicou as organizações da sociedade civil comandadas majoritariamente por mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais).
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E explico como. De acordo com ativistas sociais, a pandemia agravou as dificuldades que já se apresentavam nas suas localidades de atuação, em sua maioria áreas vulneráveis em todo o território nacional, o que os levaram a construírem frentes efetivas de ação e mobilização.
Observamos estas pessoas e entidades tomando a dianteira com soluções, por meio da promoção de acesso a insumos de prevenção, alimentação, estruturas de abrigo e capacitações, suprindo a lacuna do poder público.
Passados dois anos de pandemia, os desafios agora são outros, como bem explica Armanda Serrão, presidente e captadora de recursos do Instituto Sonhar, localizado no norte do país: “Uma das nossas principais dificuldades atualmente é entender e aprender a desenvolver novas habilidades para a captação de voluntários, e promover a permanência e a participação dos usuários e suas famílias nessas ações”.
O relatório final da CPI da pandemia da Covid-19, elaborado pelo Senado Federal, concluiu que o perfil de mortos e infectados pelo Coronavírus no Brasil não é aleatório. O documento, de 1.180 páginas, apontou que as mulheres, a população negra e os quilombolas são os que mais sofrem pelas condições socioeconômicas.
Mais vulneráveis, as comunidades desfavorecidas e grupos étnicos ou raciais marginalizados como indígenas e negros tiveram maior probabilidade de contrair o vírus, devido às más condiçoes de trabalho, como a exposição a ambientes com maior aglomeração e a necessidade de utilizar o transporte público, o que também fez com que os mais pobres tenham sido mais contaminados.
“A abolição da escravidão não extinguiu a desigualdade e o preconceito. Ainda hoje, é necessário reconhecer, com tristeza e indignação, que o racismo ainda é forte no Brasil. Silvio de Almeida define o racismo estrutural como um componente orgânico da própria sociedade, refletido na cultura e nas instituições que, sistematicamente, tendem a discriminar grupos racialmente identificados”, aponta o relatório final da CPI da pandemia da Covid-19, elaborado pelo Senado Federal, em outubro de 2021.
Considerando as necessidades que surgirão das populações vulneráveis, a inquietação sobre a capacidade de sobrevivência das organizações sociais é grande. Muitos acreditam que a demanda por seus serviços deve aumentar após o final da pandemia. E para que possam seguir com seus propósitos e missão de serem um alento para os grupos minorizados, precisamos unir forças, conhecimento e fazer uso da tecnologia disponível para gerar engajamento, envolvimento das equipes e maior visibilidade para a própria organização ou causa.
*Kelly Baptista é especialista em gestão de políticas públicas e coordenadora geral da Fundação 1Bi, apoiada pela Movile, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Conselheira Fiscal do Instituto Djeanne Firmino