Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, 14 organizações negras evangélicas, presentes em mais de 13 estados brasileiros, se reuniram para lançar Manifesto Negro Protestante Brasileiro. O documento foi assinado por organizações históricas como o Fórum de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil, Coletivo Independente de Pessoas Negras Evangélicas na Igreja Metodista, Rede de Mulheres Negras Evangélicas e Movimento Negro Evangélico do Brasil.
O documento vem no contexto de luta pelos valores democráticos no contexto evangélico e contra casos de perseguição e violência contra pessoas evangélicas que se pronunciaram contra o bolsonarismo dentro das igrejas. Para Vanessa Barboza, secretária executiva da Rede de Mulheres Negras Evangélicas, “considerando que a população negra é o maior número de adeptos do protestantismo brasileiro, é importante que organizações negras evangélicas manifestem-se sobre esse momento histórico que vivemos, de ameaça à democracia e do bem-estar e qualidade de vida dessa população”, afirma a ativista, que continua: “pra mim é muito importante que esse manifesto, sinalize uma voz profética de denúncia do perigo que corremos e também de denúncia dos danos que o governo Bolsonaro já tem nos causado nos últimos quatro anos.”
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O manifesto está destinado a quatro grupos: Governantes, lideranças e pastores evangélicos, comunidade negra e aos eleitores brasileiros. Por isso “o manifesto negro protestante brasileiro, é fruto também dessa mudança que estamos vendo no país, temos mais de 30 milhões de pessoas negras que são evangélicas, então falar de um país antirracista, é falar também de parte da organização de pessoas negras de confissão protestante, estamos perto da data de comemoração da reforma protestante. É importante dizer que esse documento se trata de um marco histórico que não tem volta, a sociedade brasileira precisa escutar todos os negros desse país”, afirma Jackson Augusto, que faz parte da coordenação nacional do Movimento Negro Evangélico.
Quando se refere às lideranças e pastores evangélicos o manifesto levanta pontos como: “Denunciar que a teologia dominante praticada nas igrejas, tem uma herança escravocrata, que apaga a África da bíblia e embranquece Jesus. Afirma que o silêncio dos púlpitos protestantes em relação ao racismo, à flexibilização das violências raciais que acontecem nas estruturas eclesiásticas e à ausência e invisibilização
de pessoas negras nos cargos de poder das igrejas chegam até os ouvidos de Deus. Reconhecer que grande parte das lideranças protestantes perseguem e silenciam as suas ovelhas que são progressistas, constroem e alimentam um espírito de nacionalismo cristão, inspirados pela tradição fundamentalista que impera nesse país.”
Segundo a coordenadora do Coletivo Independente de Pessoas Negras da Igreja Metodista, Juliana Yade, “o que marca a trajetória da população negra, dentro e fora da igreja, é a resistência coletiva, e nesse momento histórico, vimos a necessidade de nos posicionarmos
como povo negro cristão para que todas as pessoas tenham seus direitos garantidos. Essa é a força da coletividade, essa é a força desse manifesto.” O documento é uma iniciativa inédita e importante, que, demarca o quanto o contexto evangélico é plural e diverso no
país, mas também porque se trata da posição da maior representação social da igreja, que são as pessoas negras.
Para o pastor Bruno Silva, coordenador do Fórum de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil, “esse manifesto acontece dentro dessa atual conjuntura, como denúncia ao que tem sido feito com a história do nosso povo por séculos, mas também como profecia, pois continuaremos
lutando e ocupando os espaços e que não nos conformaremos com o apagamento de nossas histórias por parte de líderes e pastores que tentam nos silenciar”.
As organizações que assinam o Manifesto Negro Protestante Brasileiro são: Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil, Coletivo Reverendo Martin Luther King Jr, Coletivo Independente de Pessoas Negras da Igreja Metodista do Brasil, Coletivo Negro Evangélico
Cuxi, Coletivo Núbias, Coletivo O Que Tem no Brasil, Coletivo Zaurildas, Fórum de Negritude da Aliança de Batistas do Brasil, Grupo de Estudos Antirracista África Bíblica, GT Teologia e Negritude da Fraternidade Teológica Latino-americana, Movimento Negro Evangélico do Brasil, Pastoral de Negritude Igreja Batista do Pinheiro, Pastoral da Negritude Rosa Parks e Rede Mulheres Negras Evangélicas.
Acesse o manifesto completo aqui.
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