Onde negros não precisam pedir licença pra existir

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Onde negros não precisam pedir licença pra existir
Imagem retirada do clipe "Fogo em Mim" - Rico Dalasam

O quê JAY-Z e Rico Dalasam têm em comum? São dois homens negros, artistas, músicos, que bebem na fonte do rap… Mais que isso, os dois lançaram, recentemente, vídeos que, ainda que muito diferentes, conversam entre si. Comecemos aqui no Brasil, com Rico.

“Fogo em Mim”, a nova música de trabalho de Dalasam ganhou um vídeo oficial; e que vídeo! Quem já conhece os trabalhos anteriores de Rico sabe do que estou falando! Figurinos inspiradores, inusitados, música com refrão chiclete e, ao mesmo tempo surpreendente.

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Imagem retirada do clipe “Fogo em Mim” – Rico Dalasam

Me lembro da primeira vez que ouvi “esse verão que nunca acaba, libera em nós algo em comum, desejo a você que nunca nos falte fogo no c****”, fiquei perplexa! Queria ouvir de novo e de novo. O vídeo trás um clima de festa, de curtição, liberdade, muito característica dessa letra  do próprio Rico. E o artista deixa explicito, em um diálogo que abre o clipe, que suas letras ele mesmo escreve.

JAY-Z lançou há pouco tempo o álbum “4:44” (sobre o qual escrevi um texto) e tem lançado vídeos para cada faixa, o mais recente foi para a música “Moonlight”. Na letra o rapper faz referencia ao cinema, ao filme “Lala Land”, ao fato de nós estarmos presos sempre a uma mesma dinâmica de filmes, aos mesmos personagens brancos e estereótipos negros.

Ele também faz referência ao erro histórico no Oscar 2017, onde a principal categoria da noite, melhor filme, foi, em um primeiro momento, para “Lala Land”, porém, alguns minutos depois, descobriu-se que “Moonligth” era o verdadeiro vencedor.

Imagem retirada do vídeo “Moonlight” – JAY-Z

No meu modo de ver esse erro foi muito simbólico! “Lala Land” é o típico filme branco, com protagonistas de olhos claros, pele clara, jovens, cabelos lisos. A típica receita de Holywood, que há décadas vem nos dizendo que só os brancos são bonitos, chamosos, sonhadores capazes… Já “Moonligth” é uma história preta, periférica, de um homem negro, gay. Ainda sim o filme é delicado, poético, doce. No fim, pra todo mundo, “Lala Land” já tinha levado o Oscar antes mesmo de a cerimônia começar. Não levou!

Pra representar tudo isso, o vídeo oficial faz referência mínima ao Oscar. Na verdade o clipe remonta a série clássica “Friends”, porém com todos os personagens negros. E não é nem mesmo uma “inspiração”, é, de fato, uma cópia! O mesmo cenário, o mesmo nome dos personagens, a mesma abertura!

E o que esses dois clipes podem ter em comum? REPRESENTATIVIDADE! Essa palavra que parece já estar tão gasta, mas que, na verdade, só está começando a ser colocada em prática. Há muito o quê caminhar!

Nesses dois exemplos a representatividade negra ganha sentido pleno, uma vez que não há apenas uma pessoa negra porque “tem que ter, pra ninguém reclamar”. Além disso, as pessoas ali não estão lá com o proposito único “vamos tratar de racismo”; nós somos mais que isso!

No clipe de Rico há várias pessoas negras, de diferentes tons de pele, diferentes formas, estilos, cabelos, roupas… Elas estão se divertindo e compondo o clipe com seus estilos. A presença daquelas pessoas não é “exótica”, não é “incômoda”, nem “forçada”; é natural! Porque nós EXISTIMOS!

Imagem retirada do vídeo “Fogo em Mim” – Rico Dalasam

No caso do vídeo de “Moonlight” há todos esses elementos, com uma pitada maior de critica. A maior parte do clipe é destinada a ser uma cena de uma série, como se aquele “Friends” negro realmente existisse. Assistindo a gente se pega pensando: “E não é que é bom!?”. É como se JAY dissesse: “Tá vendo que a gente também pode fazer?”. Considerando que a série original contava apenas com atores brancos em seu elenco principal, essa critica ganha ainda mais relevância.

Imagem retirada do vídeo “Moonlight” – JAY-Z

Dalasam e JAY-Z estão, no fim, passando a mesma mensagem: temos o direito de estar em todos os lugares, em todas as profissões, em todos os “rolês”, com naturalidade, sem precisar pedir licença pela nossas vidas, porque nós EXISTIMOS!

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