Em uma sociedade racista, as formas de opressão são diversas. Principalmente quando falamos de uma sociedade que normaliza o racismo e não se choca com situações que constrangem pessoas negras.
Pessoas negras estão muito acostumadas a ouvir piadas e ver representações vexatórias de suas imagens e características sendo repassadas e reproduzidas diariamente, sejam por amigos, parentes, estranhos, na TV, na escola ou no
trabalho.
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O racismo, para se fazer presente, depende de um conjunto de ações pontuais que reafirmam a inferioridade do negro diante do branco. Essas ações isoladas não seriam consideradas racismo se não coubessem num contexto maior e esse contexto maior é uma sociedade racista.
Essas “brincadeiras” e representações vexatórias são problemáticas principalmente porque servem ao propósito de inferiorizar ou ridicularizar o ser negro e suas características. O objetivo, mesmo que não direto ou escancarado, é constranger o negro e rir dele.
O Dr. Adilson José Moreira observa que o brasileiro, de um modo geral, tem uma permissibilidade maior ao racismo se este vier acompanhado de uma tentativa humorística. Obviamente engraçado somente entre os brancos.
Acontece que, enquanto piadas racistas continuam podendo ser tratadas apenas como brincadeiras, pessoas negras são submetidas a situações extremamente constrangedoras e sentem dificuldades em rebater ou demonstrar descontentamento sem serem vistos como pessoas sem graça ou senso de humor pelas pessoas daquele ambiente.
Dessa forma, violências são permitidas e perpetuadas em um formato diferente, mas igualmente cruel, com o chamado Racismo Recreativo.
O Racismo Recreativo é algo tão enraizado e frequente na sociedade que, mesmo dentro da esfera do politicamente correto, ele ainda consegue passar despercebido. Isso porque estamos tão condicionados e passivos a ideias racistas que até mesmo negros reproduzem formas de racismo dentro do contexto humorístico e muitas das situações vexatórias para com negros só são consideradas engraçadas, justamente, pela existência do racismo.
Essa forma de racismo não se limita às relações entre pessoas no dia-a-dia, ela está presente também nos meios de comunicação. Está presente naquele personagem negro estereotipado, nas falas daqueles apresentadores de TV, no repertório do humorista famoso e naquela música que fez o maior sucesso.
O Racismo Recreativo acaba por servir como uma forma de mensagem dentro da nossa sociedade e todas as mensagens exprimem ideias e valores que se perpetuam e interferem nas relações sociais.
Por exemplo, dizer que uma pessoa loira é burra não reflete em menos loiros em universidades, não diminui a garantia de emprego ou exclusão social. Já afirmar que uma pessoa negra é criminosa, mesmo em tom jocoso, reflete diretamente no assédio e violência policial e genocídio da população negra.
O Brasil é visto como uma população cordial, bem humorada e muito receptiva por todo o mundo. Dentro dessa cordialidade existe o racismo que se disfarça entre as relações e se força a ser despercebido pelas pessoas brancas enquanto faz sérios apontamentos e direcionamentos a pessoas negras.
O principal problema desse racismo cordial e recreativo está na dificuldade de se denunciar. Na grande maioria das vezes pessoas negras são vistas como muito sensíveis por se sentirem afetadas por algo que na mente de todo mundo é uma brincadeira.
Uma denúncia ou apontamento desse tipo de racismo gera o afastamento das pessoas e a vítima passa a ser culpada por se sentir mal com algo que para todos é inofensivo. Isso criou um grupo de pessoas negras passivas a essas situações que, mesmo ofendidas, fingem não se importar com situações para que as relações sociais não sejam afetadas.
É de uma violência tremenda atacar uma pessoa por sua cor de pele ou características e ainda fazê-la se sentir culpada por se incomodar com aquilo a ponto de fingir ignorar a dor que ela sentiu ao passar por aquele constrangimento.
Esta é uma das ferramentas mais comuns do racismo nos dias de hoje.