O Pequeno Manual Antirracista foi publicado em 2019, pela escritora, professora e coordenadora da iniciativa Feminismos Plurais, Djamila Ribeiro. Em 2020, liderou o ranking dos livros mais vendidos pela Amazon no Brasil. A obra começa lembrando que o racismo estrutura a sociedade brasileira, por isso para tratá-lo é necessário apresentar uma perspectiva histórica e um ponto de partida importante é a relação entre escravidão e racismo, examinando suas consequências. É exatamente a partir desse ponto que todas as indicações, instruções, ensinamentos e sugestões na trilha do combate ao racismo são dadas.
Logo no início Djamila Ribeiro chama atenção para a importância de brancos e negros estudarem sobre as relações étnicos raciais. Aponta o sucesso do mito da democracia racial difundido por intelectuais brasileiros, sobretudo pelos escritos do sociólogo Gilberto Freyre. O Brasil seria, nessa perspectiva analítica, um paraíso das raças onde portugueses, indígenas e negros conviviam de maneira harmoniosa, desse modo romantizava as violências sofridas pelos oprimidos.
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Para combater o racismo precisamos admitir que ele existe. É urgente nomear as opressões.. Não devemos ter medo das palavras “branco ”, “negro”, “raça”, “racista”. Para combater é preciso falar. É urgente encaramos o racismo de frente
Alguns passos são fundamentais para se tornar um antirracista. Ler e prestigiar autores e autoras negros e negras. Votar e apoiar candidaturas de sujeitos negros. Incentivar empreendedores negros. Apoiar candidatos que busquem políticas públicas transformadoras. Responsáveis por crianças e adolescentes procurem saber e cobrem se a escola que eles frequentam coloca em prática a lei 10.639 que desde 2003 tornou obrigatório a história e cultura dos africanos e afro brasileiros nos currículos. De forma geral, o conteúdo ensinado nas escolas é branco e eurocêntrico. É possível e urgente que os estudantes vejam para além do ponto de vista do vencedor. Seria interessante parar de enfatizar o sofrimento da escravidão e falarmos também sobre a resistência do povo negro ao sistema escravista.
Cristalizamos, no dias atuais, os locais em que os negros podem e devem estar. A mídia, ano após anos, tem nos mostrado os papéis que os negros desempenham na nossa sociedade. Ninguém estranha uma empregada doméstica negra, mas não imaginam ela como presidente de uma multinacional. Dizem por aí que basta se esforçar, aquela velha história do mérito, mas enquanto o jovem branco rico está estudando idioma ou lendo depois da aula do cursinho caro, o jovem negro da periferia urbana está trabalhando como atendente de lanchonete em dois turnos e estuda a noite em casa. Quem tem mais chance de passar para uma vaga numa universidade pública, no curso de Medicina, por exemplo?
A população negra é maioria da população, mas os locais de poder estão lotados de brancos. Você já pensou quantas pessoas negras têm na sua equipe de trabalho? Quais cargos as pessoas negras ocupam? Mas você pode me responder, minha empresa não é racista, temos um gerente negro. Isso é racismo. O negro único é produto do racismo. Representatividade é diferente e proporcionalidade. Enquanto antirracista que nos pretendemos, busquemos proporcionalidade.
No Pequeno Manual Antirracista conhecemos intelectuais negros e negras que estão há muito tempo teorizando sobre as relações raciais nos diferentes espaços sociais. Assim, o livro menciona, por exemplo, o feminismo negro brasileiro com Lélia Gonzalez, o conceito de racismo recreativo com Adilson José Moreira, o epistemicídio com Sueli Caneiro, a cor dos afetos com reflexões de Carla Akotirene, a perpetuação do pacto da branquitude no mercado de trabalho com a psicóloga Cida Bento, a problemática da apropriação cultural com Rodney William.
O livro é uma leitura obrigatória para entender como as hierarquias raciais de opressão se perpetuam historicamente. Os brancos devem ler para se responsabilizar criticamente pelo sistema de opressão que mantém seus próprios privilégios, criando desigualdades e as maneiras complexas pelas quais eles vão se mantendo ao longo do tempo. Os negros precisam ler, pois é uma jornada de autoconhecimento e um alerta para não reproduzir opressões. Essa obra abre caminhos para a construção de uma sociedade antirracista. Para tanto precisamos agir e logo.