Silvio Almeida publicou em suas redes na noite de ontem (28), um vídeo onde afirma que: “O mercado financeiro quer o dinheiro do crime sem se sujar.” A fala ressoa com plena urgência diante do massacre ocorrido nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, onde mais de 120 pessoas foram mortas, incluindo ao menos 72 corpos encontrados por moradores em áreas de mata e levados à Praça São Lucas. Enquanto o governo do estado classificou a ação como “sucesso”, os relatos das comunidades mostram o oposto: uma operação de extermínio conduzida sob a narrativa da segurança pública.
Ao afirmar que “o mercado financeiro quer o dinheiro do crime”, Almeida desloca o foco do discurso policial tradicional para a infraestrutura oculta: não é apenas “o bandido” quem está em cena, mas os circuitos que transformam violência em lucro e invisibilidade. Ele aponta para os mecanismos de infiltração de capitais ilícitos em empresas, bancos e fintechs, uma síntese entre economia legal e ilegal que sustenta o funcionamento da máquina.
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Quando acrescenta “sem sujar suas mãos”, o ministro evidencia o arranjo maquiado: os agentes formais não precisam empunhar armas, basta oferecer canais. O sistema se retroalimenta, de um lado, o Estado usa força letal sobre territórios periféricos; do outro, o capital formal lucra com a circulação dos mesmos recursos que nascem da violência. Nesse processo, corpos negros e periféricos tornam-se o principal combustível de uma engrenagem que decide quem vive e quem morre.
O massacre no Rio mostra essa articulação em tempo real. O Estado mobiliza tanques e helicópteros; o governador Cláudio Castro celebra resultados; e a sociedade assiste, mais uma vez, à gestão da morte como política. As comunidades golpeadas são as mesmas que geram o crime e, por extensão, alimentam os lucros que Almeida denuncia.
Esse é o ponto essencial: não se trata de erro operacional nem de falha isolada, mas de um modelo de poder que usa a violência seletiva como ferramenta política e econômica. Silvio Almeida não apenas protesta; ele decodifica o funcionamento da necropolítica brasileira, uma engrenagem onde genocídio periférico e economia formal se entrelaçam.
Interromper esse ciclo exige uma agenda mínima e concreta: rastreamento de beneficiários finais de lavagem de dinheiro, plano nacional de prevenção de homicídios que vá além da repressão, e uma reforma profunda das práticas estatais de segurança, voltada à proteção das comunidades, não à sua patrulha.
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