Em 1999, aos 18 anos, a atriz, diretora, roteirista e escritora Renata Di Carmo, se tornou a primeira mulher negra do Brasil a ser contratada como autora-roteirista pela TV Globo, para trabalhar nos programas de humor Zorra Total e Escolinha do Professor Raimundo.
No mercado audiovisual há 25 anos, a Renata contou sua percepção em relação as mudanças com o aumento da contratação de profissionais negros. “É outro mercado, fruto de muito trabalho nosso e das construções que fizemos. A questão é falar de paridade. Não se trata de inclusão, se trata de direitos, de uma sociedade democrática, que precisa se rever”, disse em entrevista ao Mundo Negro.
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“A entrada de novas realidades agrega e traz qualidade para as obras, que se tornam mais ricas, sensíveis e inteligentes. Sem dúvida temos um cenário bem diferente hoje, das que estavam no audiovisual, na política, na militância, nas artes, em todos os espaços. É outro cenário, mas ainda distante do que precisa ser. Em relação a tomada de decisões e poder econômico, por exemplo. Em relação a uma adesão contínua, forte e estruturada”, destaca.
A cineasta ainda reforça a importância de não ser uma mudança oportuna. “Não deve se tratar de fetiche sobre a negritude, mas de qualidade. É esquisito como isso ainda perdura. Não deve se tratar de uma fase, mas do entendimento da precisão de ter esses profissionais inseridos, produzindo, crescendo. Sei que quando contamos histórias estamos falando de Brasil, e ele é amplo, plural e diverso. Por isso é absurdamente rico”, afirma.
Hoje, aos 44 anos, Renata continua realizando grandes projetos e está atuando em três produções diferentes: a série ‘Toda Família Tem‘ da Amazon Prime Video como roteirista-chefe, a série spin-off de ‘Cidade de Deus‘ do Max (antiga HBO Max) como roteirista, e a série ‘Candelária‘ da Netflix com roteiro e redação-final.
“‘Toda Família Tem’ é uma comédia e conta a história de uma família negra brasileira. Traz o protagonismo de um jovem negro, nas relações com o mundo, as descobertas da idade, as relações com seus familiares e com as mulheres que o cercam. A proposta foi valorizar os subtextos que existem no contexto dessas relações familiares, mostrando a dinâmica desses afetos. É um projeto que na escrita dos diálogos, na construção das narrativas, desenvolvimento das personagens e escolhas feitas, foi pensando em camadas”, conta ao Mundo Negro. Série ainda não tem previsão de estreia.
Já o spin-off de ‘Cidade de Deus’, Renata diz que a produção aposta em personagens femininas fortes. “Apesar de seguir com nosso Buscapé conduzindo a história brilhantemente, as personagens são variadas, assumindo os dois lados, há uma antagonista também. Vocês vão ver os desdobramentos que podem surgir a partir da atuação dela. Tá tudo plantado nessa temporada que vem aí. Fiquei bem contente quando isso foi encampado. Fora isso também dá espaço para personagens que não foram explorados no filme, algo que pensamos. É o depois, mas com muitas especificidades que são da série”, diz. A previsão de estreia é em 2024.
Enquanto a série ‘Candelária’, tem uma pegada afrofuturista. “Traz a visão das crianças vitimadas na chacina, reverbera seus futuros ceifados. Tem uma ludicidade inerente ao universo infantil, mas com o peso, a seriedade e respeito que precisa ter para contar essa história; o importante para nós foi sobretudo imprimir a visão de que eram crianças. Algo óbvio, mas esquecido muitas vezes nas coberturas que acompanhamos e na forma como a sociedade lidou com o acontecido. Candelária tem um estudo de linguagem sensível, escolhas muito pensadas”, relata a cineasta. Produção também será lançada em 2024.
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