Novas evidências revelam mais detalhes sobre infância de Luiz Gama e a história de Luiza Mahin

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Novas evidências revelam mais detalhes sobre infância de Luiz Gama e a história de Luiza Mahin
Créditos: Wikicommons e Alberto Henschel

Documentos inéditos revelam novos detalhes sobre a infância de Luiz Gama, símbolo da luta contra a escravidão no Brasil, e a existência de sua mãe, Luiza Mahin. O intelectual negro nasceu livre em Salvador, em 21 de junho de 1831 — e não em 1830, como se acreditava. Ele foi vendido como escravizado pelo próprio pai aos 9 anos de idade, enviado ao Rio de Janeiro e, depois, a São Paulo, onde se alfabetizou, conquistou sua liberdade e se tornou um dos maiores defensores de pessoas negras escravizadas.

Pela primeira vez, registros históricos confirmam trechos da biografia do abolicionista. Segundo informações reveladas pela Folha de São Paulo, a comprovação vem de documentos guardados no Arquivo Público do Estado da Bahia: escrituras, testamento e um registro de batismo encontrados pelas pesquisadoras Lisa Earl Castillo, doutora em letras, e Wlamyra Albuquerque, historiadora e professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia). As descobertas estão reunidas em artigo que será publicado na revista Afro-Ásia, do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da UFBA.

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Entre os achados está o testamento de Maria Rosa de Jesus, tia do pai de Luiz Gama, que confirma a origem do patrimônio familiar e aponta Luiza, descrita como nagô – grupo étnico da África Ocidental, como mãe de um menino chamado Luiz Gonzaga Pinto da Gama, “livre de toda a escravidão como se assim nascesse”.

O testamento também foi fundamental para que as pesquisadoras localizassem o registro de batismo de Luiz Gama, encontrado na freguesia de Santana, em Salvador. No documento, o pai, Antônio Agostinho Carlos Pinto da Gama, não aparece como genitor, mas como padrinho do menino — uma prática comum no período escravista.

No arquivo, o advogado também foi descrito como “pardo forro com três meses e meio de idade, filho de Luiza, escrava de Maria Rosa de Jesus”, contrariando a versão do abolicionista de que a sua mãe era uma africana livre, que havia sido presa por envolvimento em “planos de insurreições de escravos”, conforme ele relatou em carta ao também abolicionista Lúcio de Mendonça.

“Não existe nenhum indício de que ela tenha lutado na Revolta dos Malês ou na Sabinada. Tudo leva a crer que tenha sido vendida ou incluída em alguma transação feita pelo pai de Luiz Gama. E isso não diminui a importância histórica dela. Pelo contrário, isso a humaniza”, pontua Wlamyra Albuquerque”, disse Wlamyra Albuquerque à Folha de São Paulo.

Essa construção narrativa, segundo as pesquisadoras, pode ter sido uma forma de proteger a própria subjetividade diante do trauma. “Ele gera essa mulher, ele está criando essa narrativa. E a gente não quer dizer que a criação dessa narrativa é falsa. Tem a questão de serem lembranças de uma criança e tem a condição humana dele, que pode ter construído essa imagem para sobreviver emocionalmente”, completou Wlamyra.

Histórico do Genitor

As descobertas também ajudam a reconstituir a origem paterna de Luiz Gama. Seu pai, descrito por ele como fidalgo, que pertencia a “uma das principais famílias da Bahia de origem portuguesa”, e um “revolucionário em 1837”, pertencia a uma família com raízes em Santo Amaro, na Bahia.

Documentos mostram que, o pai de Ana Maria era desembargador, apesar de um certo prestígio e poder aquisitivo, Antônio Agostinho era um homem endividado, com histórico de jogos, conforme já havia relatado Luiz Gama, além de negociações de imóveis herdados. Em 1840, após perder quase todo o patrimônio, vendeu o próprio filho — um ato de traição tripla, segundo as autoras: como pai, como padrinho e como tutor legal da criança.

Para as pesquisadoras é urgente a importância de resgatar memórias apagadas pelo racismo. “A documentação apresentada constitui mais um passo na construção de um diálogo ponderado entre memória, mito e a pesquisa documental sobre as experiências do negro e suas lutas insurgentes no Brasil. E a pesquisa histórica tem papel central nessa dinâmica.”

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