
Nas últimas duas décadas, o Brasil avançou de forma significativa no acesso da população negra ao ensino superior. A adoção de políticas públicas como o sistema de cotas raciais, o Prouni, o Fies e a expansão das universidades federais criou caminhos para que milhares de jovens negros e negras pudessem ingressar na universidade — um espaço historicamente restrito à elite branca.
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O resultado foi notável. Segundo o IBGE, entre 2010 e 2022, o número de pretos e pardos no ensino superior praticamente dobrou. De acordo com o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2023 (Semesp), 53,8% dos estudantes matriculados em cursos de graduação são negros (pretos e pardos). Já nas universidades públicas, esse número chega a 51,2%, refletindo diretamente o impacto positivo das cotas raciais.
Mas se os dados educacionais apontam para um avanço, o mesmo não se pode dizer sobre a inserção da população negra no mercado de trabalho formal, especialmente em empregos de qualidade. Há um abismo entre o acesso ao diploma e o acesso a oportunidades reais de mobilidade social.
De acordo com a PNAD Contínua (IBGE, 2023), a taxa de desocupação entre a população preta é de 10,2%, enquanto entre brancos é de 6,3%. Quando se observa o rendimento médio, a diferença é ainda mais chocante: pessoas negras com ensino superior completo recebem, em média, 66% do salário de pessoas brancas com o mesmo nível de escolaridade.
O Instituto Ethos também mostra que apenas 4,7% das pessoas em cargos executivos nas 500 maiores empresas do país são negras — um número absolutamente desproporcional à composição racial da população. Em áreas como tecnologia, engenharia, direito e finanças, a presença de pessoas negras em posições de comando ainda é residual.
O que esses números revelam é que a educação, embora essencial, não é suficiente para garantir acesso igualitário a empregos de qualidade. O racismo estrutural atua como um filtro silencioso que rebaixa, ignora ou desacredita as competências da juventude negra. Isso se expressa em processos seletivos enviesados, redes de contatos excludentes, preconceitos sobre “perfil profissional” e ausência de políticas afirmativas no pós-universidade.
Para a juventude negra, conquistar o diploma é vencer uma corrida de obstáculos. Mas, ao final, o prêmio muitas vezes não é o esperado: ao invés de estabilidade, reconhecimento e ascensão, o que encontram é um mercado de trabalho que os recusa ou subutiliza.
É urgente que o Brasil avance para uma nova etapa: da inclusão educacional à inclusão profissional. Isso significa:
- Implementar programas de transição universidade-trabalho com recorte racial;
- Exigir compromissos concretos das empresas com metas de contratação e promoção de pessoas negras;
- Criar incentivos públicos e mecanismos de responsabilização sobre diversidade;
- Investir em formação de lideranças negras e em ambientes corporativos antirracistas.
O racismo não termina no vestibular. Ele se adapta, se moderniza e se fortalece dentro das estruturas do mundo do trabalho. Por isso, lutar por equidade no mercado é tão fundamental quanto garantir acesso à educação.
Enquanto o diploma de um jovem negro não tiver o mesmo peso que o de um jovem branco, o Brasil seguirá desperdiçando talentos, frustrando trajetórias e reforçando um modelo de desenvolvimento que exclui a maioria.
Educação liberta. Mas só quando o trabalho também reconhece e acolhe essa liberdade.
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