O caso de racismo sofrido pela filha da atriz Samara Felippo no colégio Vera Cruz, em São Paulo, tem gerado debates nas redes sociais sobre o tipo de punição que as adolescentes responsáveis por reproduzir a violência deveriam receber. Em uma entrevista para o Estadão, a pesquisadora e especialista em estudos de raça, racismo e psicologia, Cida Bento, acredita que as alunas não deveriam ser expulsas: “Deveria ter um trabalho com essas crianças. Elas deveriam ficar na escola e lá aprender”, afirmou.
No dia 22 de abril, Samara Felippo fez uma publicação em suas redes sociais comentando o que havia acontecido com a filha mais velha. A adolescente teve o caderno roubado por duas alunas brancas do 9° ano, que arrancaram algumas folhas e escreveram ofensas racistas em uma delas. Felippo registrou um boletim de ocorrência e afirmou que pediu a expulsão das alunas: “Eu só quero que não convivam no mesmo espaço, onde poderão futuramente humilhar novamente e ofender e cometer outros atos de racismo contra ela”, afirmou.
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Ao defender um trabalho de educação contra o racismo que seja sistêmico nas escolas, Cida Bento reconhece a dificuldade relatada por Samara sobre a filha continuar convivendo com as agressoras na escola, mas também pontua que a convivência com o racismo é algo recorrente na vida de pessoas negras: “É difícil mesmo, mas a gente vive todo dia. Os jovens vivem com a polícia, não são nem vítimas de racismo, eles têm execução sumária. Ele se distraiu e qualquer coisa a polícia mata o jovem negro. Eu estou falando um caso extremo. Mas a convivência é importante. Não dá para você tirar todos os racistas das instituições. Então tem, sim, todo um trabalho de construção de políticas de equidade e ele é muito desafiador para quem fez o racismo e para quem sofreu. Guardadas as diferenças, não é a mesma coisa, não quero relativizar porque foi muito pesado o que as meninas fizeram, rasgaram e escreveram uma expressão horrorosa. Mas onde nasce isso é a grande questão”, pontua.
Autora do livro “O Pacto da Branquitude”, que denuncia e questiona a universalidade da branquitude e suas consequências nocivas para as relações sociais a partir de um acordo não verbalizado que permite a perpetuação dos privilégios para sujeitos brancos, Cida Bento argumenta que: “É bem importante você criar processos de aprendizagem para crianças. Entender o quanto foi grave o que ela fez, fazendo uma ação rotineira por um certo tempo na escola. A escola tem que aprender ser mobilizada a partir disso e não expulsar a criança.”
A especialista cita o desconforto da branquitude em tratar o tema dentro das instituições e como isso gera manifestações de insatisfação desse grupo e destaca a necessidade delas se anteciparem a essas reações: “Minha experiência é que algumas pessoas muito insatisfeitas fazem isso dentro das instituições. Elas têm ações violentas em alguns momentos. Elas estão muito desconfortáveis com aquele assunto que surgiu o tempo inteiro e elas não conseguiram avançar num território de equidade. Por isso que eu estou falando que eu acho que a discussão da branquitude é importante, a reação branca dentro de uma instituição. Os focos de rebeldia com relação ao tratamento deste tema, em algum momento ele explode. Eu não quero desanimar nenhuma instituição, ela tem que avançar nisso, mas é preciso ter uma estratégia sistêmica, ter alguém acompanhando para escutas regulares, semestrais, para ver como é que está o clima organizacional sobre isso para poder se antecipar também”.
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