Nascido em Angola no meio de um conflito armado que acabou por privá-lo de uma infância com o pai, executado por razões políticas. Com a mãe aprendeu a enfrentar as mais duras dificuldades e foi depois da sua morte, decidiu rumar a Portugal.
Em entrevista ao portal de notícias ‘Ao Minuto’, Hoji Fortuna explica que a princípio estava em busca de um “canudo” que lhe daria um futuro melhor, mas nem o título de aluno brilhante conseguiu impedir que fosse alvo de discriminação e cedo se desse conta de que seria duro ser advogado.
“Durante muito tempo não consegui explicar o porquê de ter abandonado o curso de Direito”.
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Decidiu então, reinventar-se, entrou no reality show ‘O Bar da TV’, da SIC, e venceu. O prémio trouxe-lhe notoriedade, mas o preconceito falou mais alto.
Hoji Fortuna foi vítima de racismo em Portugal e viu o seu potencial ser desacreditado por ser um artista negro: “Não creio que exista alguma pessoa racializada negra em Portugal que não tenha sido em algum momento, senão sistematicamente, objeto de discriminação racial ou xenófoba, quer por meio de micro-agressões intencionais e não-intencionais, por atos racistas normalizados praticados por indivíduos ou instituições, quer por meio de ações gravemente dolosas. E eu não sou exceção”.
“Sou do tipo de pessoa que cresceu com imensos traumas desde tenra idade. E quando se cresce assim, quando os traumas passam a fazer parte da normalidade da vida, a reação natural é sofrê-los e atirá-los para trás, ou seja, esquecer que eles sequer aconteceram. Enterrá-los num canto qualquer da nossa mente para que eles não nos impeçam de seguir em frente. Mas por mais que os queiramos esquecer, qualquer psicanalista pode atestar, eles não desaparecem. E voltam para nos assombrar de formas diversas. Ou vão-se acumulando até que um dia um deles se torna a gota de água que faz transbordar o copo e explodimos”.
Hoji continua e diz que uma entrevista de emprego para um projeto numa grande empresa em Portugal, “foi um grande golpe”, o projeto era novo e muito ambicioso. A posição era uma posição de gestão e “um brilhante estudante de Direito”, assim descreviam os meus professores e colegas referindo-se a Fortuna.
“Eu tinha o Título de Residência, que me permitia trabalhar legalmente em qualquer empresa do ramo privado, sentia-me mais do que capaz de preencher os requisitos exigidos e candidatei-me à posição. Ultrapassei as fases todas do processo até a final. E foi-me confidencialidade que eu tinha sido a candidato mais impressionante, mas infelizmente não ia ser contratado por não ter a nacionalidade portuguesa. Aceitei o murro no estômago, mas não consigo descrever o desapontamento e a dor que isso me causou”.
“Apesar de não ter ido a um médico e de fingir para mim mesmo que era apenas mais um golpe e que ia passar, acho que entrei em depressão clínica com esse episódio e a partir daí passei a encarar de forma diferente as minhas expectativas de futuro em Portugal. Decidi parar tudo o que estava a fazer e reinventar-me”.
Hoji Fortuna, trabalhou como ator em Portugal, em Nova Iorque e no Brasil. Neste momento vive a vida “um passo de cada vez” e está no elenco da nova novela da rede Globo ‘Nos Tempos do Imperador’.
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