O Movimento Negro Evangélico (MNE Brasil) apresentou nesta semana uma notícia-crime ao Ministério Público de São Paulo contra a Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA). A ação foi motivada por um comunicado interno da igreja, divulgado em 3 de dezembro, que proíbe homens de usar penteados afro, entre outras normas, sob pena de exclusão de atividades da comunidade religiosa.
O documento interno da IPDA estabelece um conjunto de proibições que, segundo a igreja, têm como objetivo “orientar e fortalecer a caminhada cristã à luz dos princípios da Palavra de Deus”. Entre as restrições, a igreja veta o uso de barba por fazer, calças justas e, especificamente, penteados afro, associando tais características a um “mau testemunho”.
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Em caso de descumprimento, o texto orienta que os membros sejam colocados em ostracismo, ficando impedidos de participar de eventos e atividades religiosas até se adequarem às normas. O Movimento Negro Evangélico denuncia que a proibição configura crime de racismo ao vincular estéticas associadas à negritude a elementos considerados profanos ou negativos.
Para o coordenador nacional do MNE, Jackson Augusto, a utilização de referências bíblicas para justificar práticas racistas não é um fenômeno novo. “Ao longo da história, vimos interpretações como a maldição de Cam sendo usadas para justificar a escravidão e a colonização africana. Como negros evangélicos, não podemos mais tolerar que a Bíblia seja usada para violar nossa humanidade”, afirmou.
A ação foi protocolada junto ao Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi) do MP-SP. O MNE também destaca a responsabilidade do ambiente religioso em respeitar os direitos humanos e cumprir a legislação brasileira. O coordenador de incidência política do movimento, José Vítor, reforça que a denúncia ultrapassa os limites da igreja em questão: “Sabemos que práticas semelhantes ocorrem em outras instituições religiosas. Essa ação busca estabelecer limites claros para impedir que o racismo seja normalizado nesses espaços.”
A IPDA emitiu um pedido de desculpas
Após a polêmica gerada pelo caso, a Igreja Pentecostal Deus é Amor emitiu um pedido de desculpas, afirmando que o comunicado “não reflete o que a diretoria queria, de fato, comunicar”. O comunicado dizia ainda: “Pedimos sinceras desculpas se as palavras mal redigidas, que não estão de acordo com o que a diretoria desejava comunicar, tenham ferido algum irmão em Cristo”.
De acordo com o Datafolha, 59% dos evangélicos brasileiros se autodeclaram pretos ou pardos, evidenciando o impacto da denúncia em uma população majoritariamente negra. O MNE espera que o Ministério Público responsabilize a igreja e estabeleça medidas reparatórias, incluindo ações educativas que promovam a igualdade racial dentro das instituições religiosas.
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