Parece que em 2020, o famoso vídeo do Morgan Freeman foi usado mais com tom jocoso do que como um conteúdo relevante para se refletir sobre consciência negra.
Para quem não se lembra, em uma entrevista a CBS News em 2006 no programa “60 Minute’s” com Mike Wallace, quando questionado sobre a importância do dia da consciência negra, Freeman respondeu que era contra. “Você vai renegar minha história a um único mês?”. Wallace perplexo perguntou então sobre soluções para diminuir o racismo e o ator respondeu: “Pare de falar sobre ele”.
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Não há uma forma única de interpretar o que ele disse, mas ouvir uma pessoa negra mais velha falando de racismo e não contextualizar de onde ela veio é bem desonesto. É ignorar o impacto violento do racismo na percepção dessa pessoa sobre a sua própria humanidade e sobre o seu coletivo.
O mesmo vale para Gloria Maria que virou motivo de piada na Internet por uma fala durante uma entrevista com a Joyce Pascowitch , onde ela também não agradou ao dizer . “Hoje tudo é racismo, é preconceito. Acho um saco”.
Não estou aqui defendendo as falas que também não me agradam, mas usar pessoas negras idosas para criticar o racismo estrutural é poupar praticantes do racismo da exposição. É deixar brancos que saem nos jornais falando de racismo reverso, falando que negros são vitimistas e defendendo a abolição das cotas se safarem.
Quem aqui ainda se lembra do empresário Rodrigo Branco falando que Maju Coutinho só conseguiu emprego na Globo por ser negra?
Freeman nasceu em 1937, Glória Maria em 1949. Eles pensam como nossos pais, tios e avós. Nascerem e cresceram em uma época com muito mais racismo e menos direitos.
Se a ancestralidade que você respeita é a que pensa igual a sua bolhinha da Internet, esteja preparado para ser “cancelado” pelos seus descendentes quando o idoso for você.
E “parabéns” para bolhinha da Internet que invisibilizou Zumbi dos Palmares no dia da sua morte para falar fazer piadinha sobre o que um ator gringo disse há 14 anos.