Quando as pessoas entendem que a escolha do que vestir é mais do que uma atitude trivial, sendo uma maneira de estabelecer a própria identidade, passam a poder ter a intencionalidade de escolher uma peça criada por empreendedoras negras de moda autoral.
Além de todo conceito criado em cada coleção lançada e que é integrado à identidade de quem usa, estamos valorizando criadoras que aceitaram viver o desafio de ser mulher, de ser uma pessoa negra, queer e empreender no mundo da moda, comumente liderado por pessoas brancas.
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Moda negra é sobre acessórios e roupas étnicas?
Ao conversar com algumas dessas mulheres, conhecemos suas trajetórias e conselhos para quem deseja se estabelecer nesse universo. Silla Maria Filgueira, baiana, criadora da marca de calçados e vestuário, Sillas Filgueira Brand, Cecília Gouveia, artesã, marisqueira e representante da marca de acessórios de moda Quilombolas de São Lourenço e Karla Batista, fundadora da marca de acessórios Azulerde, compartilharam com o Mundo Negro suas motivações e o que esperam do futuro da moda para mulheres negras.
Motivadas pelo talento e bom gosto
Para Silla Maria Filgueira, o fascínio pela moda começou cedo. “Desde criança, eu já brincava de fazer moda com bonequinhas de palitos de fósforos e roupas de canudos plásticos. Nasci com esse dom, voltado para moda e arte”, lembra a empreendedora que ingressou no mundo da moda trabalhando como auxiliar de estilo em uma fábrica e, após vencer um concurso de novos talentos, lançou sua marca Silla Filgueira.
Cecília Gouveia, artesã e marisqueira de Goiana, Pernambuco, encontrou nos acessórios uma forma de expressão, além de sustento para sua comunidade. “Somos em muitas mulheres e eu gostava muito de acessórios. Nosso intuito era fazer peças artesanais com conchas. Decidimos na mesma hora”, conta. A marca Quilombolas de São Lourenço surgiu dessa iniciativa coletiva.
Karla Batista, bióloga e fundadora da Azulerde, encontrou nos acessórios uma forma de afirmar sua personalidade. “Acho que escolhi acessórios para afirmar minha personalidade através das minhas peças, com o design que eu queria e com o propósito que eu achava correto. Desde o começo da marca, minhas peças foram feitas com resíduos sólidos e isso foi muito importante para toda construção da marca nesses seis anos”, explica.
O desafio de ser ouvida, compreendida e reconhecida
Ao lembrarem os desafios que vivem diariamente como donas de seus próprios negócios, as empreendedoras destacam a dificuldade para obter capital, o reconhecimento profissional e até mesmo a aceitação do design contemporâneo de suas peças.
“O maior desafio, sem dúvida, é obter capital para investir em matérias-primas para o desenvolvimento das coleções. Eu realizo um trabalho na cidade baixa, minha comunidade, onde desenvolvo as peças com amigas costureiras que tiram dessa empreitada a sua fonte de renda. Como mulher negra e transsexual, enfrentei e enfrento diariamente todos os tipos de preconceitos”, destaca Silla.
Cecília também enfrenta barreiras significativas. “Os desafios como empreendedora incluem, principalmente, o reconhecimento profissional. Nós, mulheres afrodescendentes, enfrentamos o preconceito de ter que provar nossa competência. Devemos estar em todos os lugares, e não apenas nos que dizem ser nossos”, ressalta.
Karla menciona os obstáculos na aceitação de seu design contemporâneo e na sustentabilidade. “Acredito que ter um design mais contemporâneo é um deles. Enfrentei múltiplas dificuldades por não ser uma marca preta que utiliza elementos como búzios e estampas mais expressivas. Nesse processo de afirmação de marca, tive que fortalecer muito o branding para que todos pudessem entender a afro-contemporaneidade das minhas criações. Um outro problema imenso que sofro até hoje é permanecer sustentável depois de tanto tempo. Mas, por que eu continuo? Não consigo enxergar minha vida sem esse propósito, todo mês eu estudo possibilidades de futuro que minimizem esse resíduo sólido do meu entorno”, reforçou Karla.
Visões para o Futuro da Moda
Para Silla Filgueira, a evolução da moda para mulheres negras passa pelo caminho da diversidade e da inclusão: “Moda não é só a arte do vestir, a moda é contar, sentir, vestir uma história, uma cultura. Eu imagino que vamos ter mais liberdade com os nossos corpos, nossas etnias e sermos mais plurais… Moda é liberdade”.
Cecília Gouveia espera ver a evolução financeira e o fortalecimento das empreendedoras negras. “Eu imagino todas firmes e lindas e contando suas histórias para outras que estarão seguindo nossos passos! A evolução financeira de todas. Isso é o que desejamos no final”, disse.
Em uma visão atemporal, para Karla Batista, o futuro continuará sendo de união entre mulheres negras: “Claro que fazer negócios crescerem e se desenvolverem não é fácil porque sempre será necessário investimento. Mas não estamos sozinhas, sabe? Temos umas às outras. Eu tenho uma rede maravilhosa que nunca me deixa esquecer disso”, destacou.
Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Instituto C&A.
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