Meta: Liberdade de expressão ou permissão para o ódio?

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Meta: Liberdade de expressão ou permissão para o ódio?
Foto: Anthony Quintano/Wikimedia Commons

Discurso do CEO da Meta confirma apoio a Trump, assume copiar Elon Musk e incentiva discursos racistas.

Um dia muito triste para pessoas negras e demais grupos minorizados que produzem conteúdo para as redes da Meta. Se antes a incompetência na moderação ou remoção de conteúdos de ódio era uma sensação, agora ela foi institucionalizada.

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Em um vídeo publicado em seu perfil, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, afirmou que o excesso de moderação de conteúdo virou uma espécie de censura e que, a partir de agora, isso será revisto.

“Estamos mudando a forma como aplicamos nossas políticas para reduzir os erros que representam a maior parte da censura em nossas plataformas. Costumávamos ter filtros que escaneavam qualquer violação de política. Agora, vamos focar esses filtros em lidar com violações ilegais e de alta gravidade. E para violações de menor gravidade, vamos depender de alguém reportar um problema antes de agir. O problema é que os filtros cometem erros e removem muito conteúdo que não deveriam. Então, ao reduzi-los, vamos diminuir drasticamente a quantidade de censura em nossas plataformas. Também vamos ajustar nossos filtros de conteúdo para exigir uma confiança muito maior antes de remover qualquer conteúdo”, disse Zuckerberg.

Em seu discurso, ele indiretamente atacou o Brasil ao citar a América Latina como uma região onde a moderação de conteúdo supostamente fere a democracia. Zuckerberg estava provavelmente se referindo ao caso entre o X (antigo Twitter) e a Justiça brasileira, que ganhou destaque quando Elon Musk criticou publicamente decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou o bloqueio de contas na plataforma por disseminação de desinformação e ataques à democracia. Musk acusou a corte de censura e ameaçou descumprir ordens judiciais, alegando falta de transparência. O episódio gerou debate global sobre liberdade de expressão e o papel das plataformas digitais no cumprimento de determinações judiciais.

“Países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de forma silenciosa”, afirmou o CEO da Meta.

O X, inclusive, foi citado como a plataforma que ele usará como referência para a moderação de conteúdo da Meta, e Zuckerberg ainda mencionou sua parceria com Trump:

“Por fim, vamos trabalhar com o presidente Trump para enfrentar governos ao redor do mundo que estão atacando empresas americanas e promovendo mais censura.”

Toda essa defesa da liberdade de expressão esconde, na verdade, fortes interesses políticos que defendem a ideia de que “tudo pode ser dito”, com o objetivo de agradar eleitores com discursos que atacam grupos minorizados, minorias, juízes e a imprensa — tudo em nome de uma suposta liberdade de expressão, que tem desafiado constituições em diversos países.

Dentro de um recorte racial, é esperado que o número de racistas que veem pessoas negras como inferiores — considerando essa crença apenas como uma “opinião” — se sintam ainda mais encorajados a disseminar conteúdos desse tipo, já que a Meta passou a tratar a moderação como censura e certos discursos como irrelevantes.

A jornalista Luciana Barreto, em sua obra “Discursos de ódio contra negros nas redes sociais”, cita um estudo do professor Luiz Valério Trindade, que revela que 81% dos discursos de ódio racistas no Brasil são direcionados a mulheres negras.

“No discurso de ódio contra negros, palavras que remetem à eliminação e morte aparecem com frequência. Isso é muito grave, pois projeta uma conjuntura não só de ódio, mas também de eliminação”, afirmou Luciana em entrevista ao site Mundo Negro.

Depois do X, agora é a vez da Meta declarar seu apoio a Trump, o que, sem dúvida, impactará a experiência de pessoas negras ao consumir conteúdo nessas plataformas. Sair da Meta parece não ser uma opção viável, já que o Brasil é um dos maiores mercados da empresa. De acordo com o Statista, em janeiro de 2024, o Brasil contava com aproximadamente 134 milhões de usuários no Instagram, posicionando-se como o terceiro maior mercado da plataforma, atrás apenas da Índia e dos Estados Unidos.

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