
Texto: Luciano Ramos
Para quem acompanha os meus textos aqui no site Mundo Negro e nas minhas redes sociais, já sabe do diálogo que eu faço acerca das masculinidades e os elementos de validação social a que os meninos são submetidos, o tempo todo, para alcançar o reconhecimento. Desde muito cedo, os meninos precisam performar uma masculinidade que eles nem tiveram a chance de dizer se acreditam ou não. E no caso dos meninos negros, isso se torna, ainda mais compulsório. Já que eles aprendem, precocemente, por meio do racismo, que homem negro não é homem. Ser reconhecido como homem significa cumprir com alguns estereótipos. E um deles é o acesso a pornografia.
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Em geral, segundo as pesquisas, o primeiro contato dos meninos com a pornografia é entre 09 e 13 anos. A relação de meninos e homens jovens negros e o consumo da pornografia é um tema que envolve diversas dimensões incluindo questões de raça, gênero, sexualidade e representações midiáticas. Vale ressaltar que há uma carência de estudos específicos focados exclusivamente nesse grupo racial, algumas pesquisas oferecem insights relevantes.
Alguns estudos apontam que a pornografia mainstream frequentemente perpetua estereótipos raciais, especialmente em conteúdos classificados como “interraciais”. Nessas produções, os homens negros são frequentemente retratados de maneira hipersexualizada e associados a estereótipos de virilidade exacerbada. Além disso, eles são colocados em cena numa perspectiva agressiva e violenta, fortalecendo a ideia de desumanização destes indivíduos, impactando a autoimagem e as relações interpessoais dos jovens negros. O consumo de pornografia irá influenciar a maneiro como jovens negros percebem e constroem as suas masculinidades. Ao internalizar padrões irreais e estereotipados, eles, certamente, enfrentarão conflitos com suas reais identidades e as expectativas impostas pela sociedade.
É impossível não entrar na polêmica de como os filmes pornográficos, também, moldam as relações afetivas sexuais e os desejos dos homens negros, em relação às mulheres brancas, em detrimento das mulheres negras. Aqui não há uma crítica, há uma constatação. Os filmes pornográficos interraciais que colocam a mulher branca na posição de submissão e de fragilidade criam nos homens negros uma espécie de fetiche de algo que eles precisam vivenciar.
Vale lembrar que masculinidade, tal como temos experimentado, até agora, é poder. Ainda que num aspecto ilusório o homem negro busca o exercício da masculinidade ideal (se você, ainda, não leu meus artigos aqui, te convido a ler e entender bem o que eu quero dizer), ou seja, sentir-se poderoso, em alguma medida. Logo, a experiência sexual interracial lhe dá essa falsa sensação. Como os desejos e os afetos são construções sociais, esse desejo se molda, também, por meio dos filmes pornográficos.
A promoção de discussões abertas e educativas sobre sexualidade, raça e mídia é fundamental para a desconstrução de estereótipos e fomento de uma compreensão mais saudável e realista da sexualidade entre meninos e homens jovens negros.
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