
Carrego lembranças desagradáveis relacionadas ao 13 de maio, celebração da abolição da escravidão. E nem digo pela questão histórica que todos nós sabemos ser uma narrativa racista para alienar as nossas consciências e colocar a Princesa Isabel como heroína do povo negro. O sistema ofusca as críticas às condições em que a liberdade estava colocada, após séculos de massacre e exploração de pessoas africanas. A
s memórias incômodas têm relação com a experiência na escola. O racismo saía pelos poros de algumas crianças brancas, principalmente no mês de maio. Eu queria sumir sempre que os professores abordavam a escravidão no Brasil, pois em meio à narrativa de sofrimento as crianças brancas ficavam olhando com cara de piedade para nós, negros. Era puro fingimento, afinal, quando íamos para o intervalo elas se transformavam. Gargalhando, diziam coisas do tipo: “Cuidado! A Lei Áurea foi assinada a lápis…. qualquer borracha apaga.” O pior é que não adiantava falarmos para os professores, eles não tinham atitudes enérgicas para acabar com o racismo recreativo.
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Em uma ocasião, a mãe de um amigo foi à escola denunciar que o filho havia chegado em casa chorando, pois foi chamado de “macaco escravo”. Mas adivinha o que aconteceu? O caso foi tratado como “coisa de crianças”, e que “não seria motivo para tanta preocupação”, nas palavras da diretora. Claramente, ela estava negligenciando o papel da escola como espaço de celebração e respeito às diferenças. A formação escolar que ignora tal componente não contribui para uma sociedade solidária e democrática. Essa é uma escola que não nos interessa como nação.
Conheço pessoas que dizem que essas situações foram superadas nas escolas, no entanto estão enganadas. Afirmo sem sombra de dúvidas, a pertinência atual do pensamento da doutora Nilma Lino Gomes (2003), “A escola, enquanto instituição social responsável pela organização, transmissão e socialização do conhecimento e da cultura, revela-se como um dos espaços no qual as representações negativas sobre o negro são difundidas.”
Para os que acham exagero da minha parte, basta pesquisarem nos portais de notícias e encontrarão uma imensidão de casos de racismo nas escolas. Inclusive associações que remetem diretamente ao período da escravidão : “Macaco, escravo, preto adotado”, “Saudade de quando preto era escravo”, “Quer ser meu escravo?”. Essas manchetes de notícias, encontrei numa pesquisa básica pelas redes sociais. Diante dessa realidade complexa, com os aparelhos do Estado cada vez mais omissos na proteção do nosso povo, os militantes e ativistas negros, além de organizações compromissadas com a luta antirracista, devem construir formas de educar as crianças e jovens negros para se defenderem da violência racista. Afinal, a escola continuará sendo um espaço hostil e adoecedor para as nossas crianças.
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