“Estátua de um manequim negro com os pés acorrentados, instalada na unidade do supermercado Pão de Açúcar, no bairro da Vila Romana, em São Paulo, está causando revolta nas redes sociais desde o dia 19 de agosto”. Este é um trecho da matéria que saiu nesta quinta-feira no jornal O Globo. As manifestações contra a estátua da criança escrava que começou pelo Facebook, com uma foto divulgada por Samuca Vieira e ganhou voz por meio do perfil do site Mundo Negro, teve até o momento (tarde de 5ª feira) mais de 3.700 compartilhamentos com um alcance viral de mais de 250 mil pessoas. O mérito dessa repercussão se deve aos leitores que usaram do seu lado “ativista” para manifestar a sua indignação ao que o jornal carioca define como “gafe” da rede de Supermercados.
Ontem, quarta-feira, a assessoria de imprensa respondeu ao e-mail enviado pelo Mundo Negro dizendo que lamenta o ocorrido e que todas as peças foram removidas:
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“O Pão de Açúcar esclarece que a estátua em questão foi adquirida como parte de uma coleção de peças decorativas de loja, sem intenção ou apologia a qualquer tipo de discriminação. A rede agradece os contatos recebidos dos clientes e lamenta o fato ocorrido, uma vez que pauta suas ações na ética, promoção e respeito à diversidade. Assim que tomou ciência do caso, o Pão de Açúcar providenciou a retirada da estátua das lojas e está revendo o processo de seleção de peças decorativas. A rede permanece à disposição de seus clientes pelo telefone 0800-7732-732.”
Apesar do pedido de desculpas também feito pela página do Pão de Açúcar no Facebook, há que defenda que a rede de supermercados deve um pedido oficial de desculpas à comunidade negra, muito maior que um post na rede social.
“ Acho resposta insuficiente. Acredito que devem, no mínimo, desculpas à comunidade negra e a todos que se sentiram agredidos”, defende Lina Ling uma das leitoras da página do Mundo Negro.
Confira as principais manifestações do perfil do site:
Tägä Marcos Patético foi ter posto uma estátua dessas em pleno séc XXI. Ela seria muito bem vinda no “Museu da vergonha de ser humano”
Gilberto Garcia: Gente ignorante aqui comparando história com publicidade! O pão de açúcar não é museu de história. É um supermercado. essa é a diferença. É o fim da picada usar o sofrimento de um povo para vender! processo neles já!
Nilza Alves: Não podemos nos calar ante a situações preconceituosas, discriminatórias, precisamos abrir a boca sempre.
Flávio Conrado Jr: Um esteriótipo a menos em pleno século XXI.
Em entrevista ao site Mundo Negro, o militante da UNEAFRO Douglas Belchior Preto, disse que a entidade está estudando, através de seus advogados, a hipótese de denunciar o Pão de Açúcar por “Dano Moral Coletivo”.
Ainda sobre o pedido de desculpas do supermercado, vale ressaltar que há uma confusão com o termo discriminação e apologia à escravidão. A imagem de um negro escravo tem o mesmo peso simbólico de uma criança judia em um campo de concentração, mas a falta de sensibilidade e conhecimentos históricos dos responsáveis pela seleção de artigos decorativos banalizaram uma imagem de alto teor ofensivo à comunidade negra. A imagem de uma criança escrava entre frios, carnes, como item de decoração em um supermercado de classe média em pleno século XXI, ressalta a necessidade de muitos profissionais de comunicação e publicidade retomarem seus estudos sobre história do Brasil. Há muito ainda a ser feito para exaltar o valor da contribuição negra para riqueza deste país, muito mais do que os programas de diversidade que o próprio Pão de Açúcar se orgulha em dizer que oferece.
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