O espetáculo “Luther King – O Musical” é arrebatador, imperdível, emocionante e didático. A todos que se dedicam a entender a luta do movimento pelos direitos civis nos anos da década de 1960 nos Estados Unidos vai surpreender pela riqueza de informações.
Percebo que o musical foi inspirado no livro “Autobiografia de Martin Luther King”, organizado por Clayborne Carson e brilhantemente traduzido por Carlos Medeiros. A primeira parte é dedicada ao episódio de Rosa Parks.
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Em 1º de dezembro de 1955, a sra. Rosa Parks recusou-se a deixar seu lugar quando o motorista de um ônibus lhe pediu que se levantasse e passasse para a parte traseira do coletivo. Ela estava sentada na primeira fileira de uma seção não reservada a negros. Todos os lugares atrás estavam ocupados, e se ela seguisse a ordem do motorista teria de ficar de pé para ceder o lugar a um passageiro de sexo masculino que tinha acabado de pegar o ônibus. De uma forma digna e tranquila, tão característica de sua radiosa personalidade, ela se recusou. Em resultado disso, foi presa. Era o tempo de leis segregacionistas e de um racismo amparado pela legislação.
O que impressiona na plateia que assistia ao espetáculo é a imediata identificação com os atores negros e a reação a todas as cenas, que foram seguidas de aplausos entusiasmados. É como se a realidade do Sul dos EUA retratasse a dura situação do racismo no Brasil.
É impossível entender o ato da sra. Parks até se perceber que um dia a xícara da paciência acaba entornando e a personalidade humana solta um grito: “Eu não aguento mais isso.” Sua recusa em passar para a parte traseira do ônibus foi uma afirmação para o mundo, intrépida e corajosa, de que ela atingira o seu limite. Quantas pessoas não se sentem como Rosa Parks diante do racismo sofrido diariamente?
Um aspecto que se destaca para a reflexão é o papel dos pastores, sobre o qual Martin Luther King afirma o seguinte: ”…tenho a convicção de que qualquer religião que professe uma preocupação com as almas dos homens, mas não esteja igualmente preocupada com as favelas a que eles estão condenados, com as condições econômicas que os estrangulam e com as condições sociais que os debilitam, é uma religião espiritualmente moribunda, que só falta ser enterrada.”
Luther King com a certeza foi um dos maiores líderes do século XX e uma de suas conclusões impactantes sobre sua luta em defesa dos direitos da comunidade negra é a bela afirmação “Passei a perceber que ninguém abandona seus privilégios sem uma forte resistência. Percebi também que o propósito subjacente da segregação era oprimir e explorar os segregados, e não apenas mantê-los separados. Mesmo pedindo por justiça dentro das leis segregacionistas, os “poderes constituídos” não estavam dispostos a nos atender. Justiça e igualdade, percebi, nunca viriam enquanto a segregação permanecesse, pois o propósito básico desta era perpetuar a injustiça e a desigualdade.”
Se você não viu o espetáculo, recomendo que assista e reveja muitas vezes o musical que está em cartaz de quinta a domingo, em vários horários, até o dia 13 de fevereiro, no Teatro Nissi, em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Luís Antonio, 884, conhecida “Broadway Paulista”. (Clique aqui!)