Ludmilla é aquela cantora, funkeira, que começou a carreira como “MC Beyoncé”, quem lembra? Você lembra também de ela ter sido chamada de “macaca” em rede nacional, na TV aberta, ao vivo? Ou quando ela foi atacada por ofensas racistas na internet?
Nosso país é racista, machista e classista, disso você já deve saber. Ludmilla é negra, mulher, de origem humilde e canta funk – ritmo oriundo das favelas cariocas. Então, a quantas ofensas ela esteve e está sujeita? Disfarçado de “é só a minha opinião”, perdi as contas de quantas vezes li e ouvi comentários odiosos endereçados a ela, a música dela, a sua estética.
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Há algum tempo atrás assisti um vídeo onde Ana Carolina – cantora branca, conceituada da MPB – canta “Hoje”, hit consagrado na voz de Ludmilla. Os comentários me deixam pensativa, pra dizer o mínimo. Coisas como: “Velho se eu fosse a Ludimilla eu nunca mais cantava essa música hehehehehe HUMILHOUUUUuuuUUU mostrou que cantar com a boca é diferente de com a bunda :)” ou “Até uma música tosca, fica perfeita na voz dessa mulher”.
Ana Carolina fez a versão de um funk em voz e violão, nada mais. Ela não fez nada de extraordinário, nem com sua voz, nem com a música. O ritmo é o mesmo, a letra é a mesma… Na verdade, toda a graça da música, que é a batida contagiante e a maneira maliciosa com que Ludmilla a canta, Ana não tem em sua versão. Mas, ainda sim, as pessoas acham MUITO melhor! Por que será?
Obviamente, por que voz e violão não é funk! Ana não é negra, não é funkeira, não rebola, então ela “pode tudo”! Não nos esqueçamos que estamos no país onde tramitou um projeto de lei, em pleno 2017, para a CRIMINALIZAÇÃO do funk!
Mas agora esta Ludmilla, funkeira, mulher negra, cantora e compositora, está indicada ao Grammy Latino, uma das maiores premiações do mundo da música e, sem dúvidas, a maior da América Latina. Pra você ter uma ideia, Shakira e Maluma estão concorrendo este ano. Ivete Sangalo, Caetano Veloso e Gilberto Gil já foram alguns dos brasileiros vencedores.
Ludmilla está concorrendo na categoria destinada à língua portuguesa, de melhor álbum pop contemporâneo, pelo disco “A Danada sou eu”. Será que os críticos musicais do Grammy Latino acham mesmo que a Ludmilla só canta “com a bunda”, ou será que os críticos de internet é que precisam ser menos machistas e racistas?
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