Mundo Negro

Livro denuncia como o racismo prejudica diagnósticos e tratamentos médicos de pessoas negras

Foto: Reprodução/Instagram

Uma matéria publicada pela BBC na última semana mostrou como o racismo presente na literatura médica tem prejudicado tratamentos e diagnósticos oferecidos a pessoas negras. Em entrevista para o veículo, a jornalista Layal Liverpool conta como identificou as discrepâncias nos serviços de saúde para pessoas negras e brancas, informações contidas em seu livro recém-lançado nos Estados Unidos e no Reino Unido: “Systemic: How Racism is Making us Ill” (“Sistêmico: Como o Racismo Está Nos Deixando Doentes”).

No livro, ela conta como o racismo estrutural permeia cada aspecto dos cuidados de saúde, especialmente afetando pessoas negras em todo o mundo. A obra revela como falsas crenças e preconceitos históricos moldaram práticas médicas, levando a diagnósticos inadequados e tratamentos desiguais.

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Um dos principais pontos destacados por Liverpool é a persistência de estereótipos prejudiciais na medicina. Por exemplo, muitos profissionais ainda acreditam em mitos como a suposta “diferença biológica”, reforçadas por teorias eugenistas, que faz com que pessoas negras sintam dor de maneira diferente ou tenham estruturas físicas distintas das brancas. Essas falsas premissas influenciaram diretrizes médicas por décadas, resultando em tratamentos inadequados e até mesmo perigosos para pacientes negros.

A jornalista científica conta que foi mãe há pouco tempo e que descobriu que o risco de mortalidade materna durante a gravidez ou no parto é quatro vezes maior para mulheres negras do que para brancas no Reino Unido. O dado se repete em outros países, como os EUA e Brasil, país em que “o número de mulheres negras que morreram durante a gravidez ou 42 dias após o fim da gestação foi de 8 a mais, a cada 100 mil nascidos vivos, do que entre mulheres brancas entre 2014 e 2019“, de acordo com dados apresentados na nota técnica “Desigualdades raciais na saúde: cuidados pré-natais e mortalidade materna no Brasil, 2014-2020”.

A autora explora como o racismo afeta o acesso a cuidados de saúde mental. Pessoas negras são mais propensas a serem estigmatizadas como perigosas ou agressivas durante crises psicológicas, o que aumenta o risco de tratamentos coercitivos e até mesmo fatais. Esse viés sistêmico contribui para a subdiagnóstico da depressão e superdiagnóstico de condições como esquizofrenia entre pessoas negras em países como Estados Unidos e no Reino Unido.

Liverpool também aborda as disparidades alarmantes na saúde cardiovascular. O estresse crônico causado pelo racismo diário contribui significativamente para taxas mais altas de hipertensão e outras condições cardíacas entre pessoas negras. O impacto é amplificado por experiências de discriminação em ambientes de cuidados de saúde, onde pacientes negros frequentemente enfrentam desconfiança, falta de empatia e diagnósticos tardios.

A jornalista destaca que o racismo não é apenas uma questão de atitude individual, mas sim um problema estrutural que permeia todo o sistema de saúde. Ela aponta para iniciativas como a revisão de diretrizes médicas e o treinamento de profissionais de saúde para reconhecer e combater viéses raciais como passos essenciais para promover uma saúde verdadeiramente equitativa.

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