O Brasil é o país onde pessoas negras sofrem racismo até em eventos pensados para elas, em seu próprio território. Em celebrações de cultura negra, festivais de música nacionais ou internacionais, não é raro aparecer por meio das redes sociais, alguém expondo alguma situação, onde a cor da pele interferiu na experiência e arruinou um momento que era para ser divertido. Muito disso vem pelo fato de que a organização e curadoria ainda fica na mão de pessoas brancas, em grande maioria.
O episódio mais recente foi o Festival Liberatum , evento que depois de passar por mais de 13 países, escolheu o Brasil e a cidade de Salvador para trazer a riqueza da sua programação como palestras, painéis, performances, exposições de arte e outras atividades culturais. Viola Davis, Angela Bassett, Seu Jorge, Taís Araújo, Karol Conká, foram alguns dos nomes mais famosos que circularam pela cidade baiana durante os dias 3 a 5 de novembro, período do festival.
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Na noite de terça-feira (7), a influencer Vitty, uma das convidadas do evento, narrou situações de racismo que sofreu com seus amigos, vindas de homem branco, loiro e estrangeiro, que faz parte da equipe internacional do Liberatum.
“Eu chego no jantar, encontro meus amigos e vamos tirar foto no backdrop. Não só a gente, mas também tinha outros influenciadores e artistas pretos também esperando para tirar foto. Aí chega um grupo de paquita e uma pessoa específica. E essa (pessoa) começa a intervir, entrar na frente das câmeras. A gente tirando foto e ele começa a entrar na frente das câmeras porque queria que a gente saísse pra ele branco, e as paquitas brancas tirarem foto também, nesse evento tão representativo”, detalha a influenciadora conhecida no Tiktok que disse que depois que as câmeras foram desligadas.
Vitty conta que depois do momento tenso para tirar as fotos, ela e os amigos seguem para o Jantar Preto, evento que também fez parte da programação. E mais uma vez, esse funcionário estrangeiro volta a incomodá-la, quando elas e os amigos usam suas bolsas para reservar um assento enquanto se acalmavam em uma área externa. “Queriam tirar a nossa bolsa de lá, porque não sei quem iria sentar naquele lugar. E a gente tinha que sair dali, para dar um lugar pra essa pessoa sentar”.
Vitty e seus amigos protestaram e o funcionário foi expulso do jantar. Horas depois da denúncia, Liberatum emitiu um comunicado dizendo que a pessoa citada nos vídeos de Vitty havia sido demitida. “Após investigação interna, o mesmo foi devidamente notificado e demitido. Nós não compactuamos com nenhuma forma de discriminação ou intolerância a ninguém. É contra tudo que lutamos”, disse o comunidade escrito por Pablo, Fundador do Liberatum.
A jornalista Ashley Maia, que mediu painéis durante o evento, também relatou situações que considerou de cunho racista. “ Eu estava na programação do evento e tive meu trabalho desvalorizado várias vezes, sendo ignorada e quase impedida de participar das confraternizações e jantares”. Ela e outros creators trabalharam no evento de forma voluntária.
EPISÓDIOS DE RACISMO, NÃO POUPARAM NEM O FUNDADOR DO FESTIVAL
Pablo, fundador do Liberatum, usou o comunicado oficial, em solidariedade a Vitty, para relatar que também sofreu situações de racismo durante o evento em Salvador. “Eu, Pablo, fundador da LIBERATUM, pessoa não-branca, indiana, queer, não só tive meu cargo questionado por pessoas brancas do público, como fui fisicamente empurrado por uma delas durante o festival”.
Ele continua: “Buscamos refletir a cultura de cada país pelo qual passamos, e quando decidimos escolher Salvador para sediar este evento, sabíamos da necessidade de celebrar a contribuição afro-brasileira para a construção cultural de Salvador e do Brasil, principalmente quando o país enfrenta o racismo estrutural”.
“À nossa equipe, composta majoritariamente de pessoas pretas, dentro de todos os setores do festival, e ao nosso público que saiu deste final de semana inspirado e positivamente afetado, nosso muito obrigado por fazer parte disso. Você é a razão pela qual continuamos a fazer o que fazemos”, concluiu Pablo.
PARCERIA DE MÍDIA
O Mundo Negro foi um dos parceiros de mídia do Festival Liberatum, e logo após as denúncias aparecerem nas redes, entrou em contato imediatamente com o perfil do do festival nas redes sociais. Como a imprensa negra, livre e independente, não podemos ignorar as dores da nossa comunidade, público que é a razão principal do nosso trabalho.
Fomos prontamente atendidos por Pablo que nos informou sobre as providências que seriam tomadas e logo em seguida postou a nota oficial.
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