Lázaro Ramos e Mano Brown falam sobre os rumos da esquerda, música e cinema no “Espelhos”

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Lázaro Ramos e Mano Brown falam sobre os rumos da esquerda, música e cinema no “Espelhos”

O programa  “Espelhos“, comandado pelo ator e diretor Lázaro Ramos, chegou a sua 15ª edição e trouxe o rapper Mano Brown como convidado em episódio exibido no último dia 30 de agosto. De forma virtual, por conta da pandemia, os artistas bateram papo sobre diversos temas, incluindo negritude, música e política. “A gente fica nervoso quando a gente vai papear com nosso ídolo”, disse Lázaro a Mano Brown logo no início da entrevista. A reverência foi devolvida ao ator com declarações de admiração por parte do músico de 51 anos.

Imagem: Reprodução

Sobre o pioneirismo dos Racionais MCs como representante de uma militância negra de força no Brasil, Mano Brown descartou ter iniciado o movimento.”A gente não inaugurou isso. Houve outros movimentos muito fortes. Teve a Frente Negra Brasileira, dissolvida pelo Getúlio. O MNU (Movimento Negro Unificado), que eu fui conhecer no ano de 1988. Já existiam lutas, né? Existia, por exemplo, o Chic Show, o Zimbabwe, o Black Magic, que já eram militância corpo a corpo (…) Quando o Racionais chegou já tinha esse ambiente formado”, apontou.

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Em 2018, diante de um quadro polarizado extremo, Mano Brown protagonizou um momento emblemático. Durante um evento de partidos da esquerda brasileira, que naquele momento buscavam votos para o candidato do PT, Fernando Haddad, o músico pediu autocrítica e disse que a esquerda tinha que “voltar para base”. Lázaro Ramos resgatou o episódio. “Naquele momento a base tinha se virado contra nós (…) eu deveria estar ao lado da massa naquele momento, mas eu não estava porque eu achava que a massa estava do lado errado. Aí é totalmente contraditório pra mim. Pow, você tinha que estar do lado do povo e não do lado do político da situação, que naquele momento nem era mais, era o Temer. Era uma situação desagradável, vamos dizer assim”, refletiu Brown. “O nosso compromisso não é com o PT, com o Lula ou com a Dilma. É com quem pensa o nosso povo. Só que naquele momento, às vésperas da eleição, o povo estava pensando coisas contrárias do que eu pensava e eu também fiquei perdido. Não vou mentir”, disse.

Sob olhar atento do entrevistador, Brown disse que já notava a mudança de comportamento da periferia alguns anos antes da eleição de 2018. “Eu já imaginava que ia desembocar num governo de extrema-direita”, disse o artista, que notava o aumento das bancadas formadas por policiais militares nas casas legislativas. “É estranho os caras que são políticos não terem percebido isso, não terem antecipado essa jogada”, apontou.

Ainda sobre a relação entre a desconexão da esquerda com as massas, Mano Brown disse que viu em reuniões algumas acusações por parte de integrantes do movimento político. “Muito antes da queda da Dilma eu vi a esquerda acusar o povo de alienação. O povo não compra livros, compra microondas. Tudo bem, conhecimento é importante, mas você não pode achar que tudo que o povo faz parte de desinteligência. Isso é um pensamento elitista”, completa o compositor.

Brown tem composto músicas dançantes, como mostrado em seu disco solo “Boogie Naipe”. O paulistano explica que fazer música dançante é um desafio. A entrevista termina com Lázaro prometendo colocar Brown como ator em um de seus trabalhos.

Além de Mano Brown, o programa “Espelhos” contará com nomes como a escritora nigeriana Chimamanda Adichie, a cantora Gal Costa e outros. 

A entrevista completa está disponível no Canal Brasil, na Globo Play.

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