O negro na perspectiva da economia, empreendedorismo, criatividade, mídia, espiritualidade e corporeidade, foram alguns dos muitos assuntos debatidos durante o quinto encontro Kwanzaa – São Paulo, realizado no sábado (26).
Por Silvia Nascimento
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Aos mesmo tempo que oficinas para crianças e feira afro aconteciam, intelectuais negros de várias áreas levaram o público a reflexão com assuntos relevantes e alguns polêmicos, como a questão da apropriação cultural.
“Eu (mulher negra) não vou sair na rua usando um cocar. Eu sei que eu poderia ofender a mulher indígena com essa atitude, da mesma forma que me ofendo vendo uma branca usando um turbante, não que eu vá até ela para tirar o turbante, mas me sinto extremamente incomodada”, afirma Daniela Gomes, jornalista e Doutoranda em Estudos Africanos pela Universidade do Texas.
Falando sobre criatividade na perspectiva da espiritualidade, Ama Mizani que estuda saúde holística africana e é membro do Afrocentricity International resgatou a importância de se valorizar a contribuição história do negro para humanidade, sobretudo na questão do conhecimento científico. “O primeiro médico da história da humanidade foi negro e ele descobriu a cura para centenas de doenças”, explicou a estudante que ainda defendeu que criatividade e espiritualidade andam juntas e que os momentos de inspiração são divinos.
A presidente do Instituto Feira Preta, Adriana Barbosa, falou sobre os desafiados em gerenciar a Feira Preta, maior evento de cultura negra da América Latina. “Há muita dificuldade em se conseguir financiamento, porque o banco não acredita que não vou ter como pagá-lo e ajuda do setor público também é complicada porque que muitas vezes nos encaminham para secretarias sem verbas para nos ajudar” relatou a empresária que ainda acredita que há muito apego emocional dos empreendedores negros que trabalham com esse segmento,
Um panorama sobre afro-negócios no Brasil e EUA foi o tema abordado por Rodrigo Faustino, sócio idealizador do Ebony English, a única escola de inglês no Brasil que trabalha com cultura negra em sala de aula. “ No Brasil houve uma tentativa de integração entre escravos recém libertos pela abolição. Nos EUA os que usavam a mão de obra escrava, não queria mais saber dessas pessoas, e isso fez com que eles tivessem que criar sua própria estrutura, como escolas, postos de saúde e até bancos, todos fundados e administrados por negros”.
O professor Fabiano Maranhão, mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos falou sobre como algumas brincadeiras praticadas por crianças brasileiras tem um teor racista de forma explícita. “Eu quando brincava de polícia e ladrão com os meus amigos na infância, era sempre o ladrão”, exemplificou o professor que ainda lembrou do “boi da cara preta” e outras canções com letras racistas.
O evento ainda teve o espaço Kwanzaa Kids com oficinas e contação de estórias para crianças. O escritor Durval Arantes, também esteve presente vendendo e autografando a sua obra “O último negro”.
O Kwanzaa Brasil é encabeçado pelo administrador de empresas Luiz de Jesus e tem sua próxima edição prevista para o dia 20 de novembro. Mais informações pela página oficial do evento no Facebook.
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