Nesta sexta-feira (22), o Intercept Brasil foi proibido de falar sobre o assassinato de Mãe Bernadete. O Tribunal de Justiça da Bahia, por meio do juiz de primeira instância George Alves de Assis foi responsável por realizar a proibição. O veículo tinha publicado uma reportagem sobre a luta da líder quilombola contra grandes empresários.
Nos últimos seis anos, além de lutar contra a especulação imobiliária no quilombo Pitanga dos Palmares, localizado em Simões Filho, Mãe Bernadete também buscava justiça pelo seu filho, Flávio Gabriel Pacífico, de 36 anos, mais conhecido como Binho do Quilombo, que também foi brutalmente assassinado por defender seu território.
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Mãe Bernadete foi assassinada a tiros em seu terreiro no dia 17 de agosto. A ação foi realizada por bandidos armados que invadiram o local, amarraram pessoas e executaram a ialorixá.
O Intercept classificou a decisão da Justiça como censura. Além de não poder citar o autor da ação e não poder mais falar sobre o assunto, o veículo também foi obrigado a retirar do ar a reportagem que esmiuçava a luta de Mãe Bernadete no quilombo Pitanga dos Palmares. “O Intercept Brasil discorda veementemente da decisão e está recorrendo. A determinação viola a Constituição brasileira e a liberdade de imprensa vigente no país“, informou o veículo em nota. “Somos uma redação sem fins lucrativos, financiada pelos leitores, nós precisamos que a nossa comunidade se una e nos ajude a derrotar mais esta tentativa de intimidação”.
Em outro trecho da nota, o Intercept declarou que vai continuar lutando na Justiça para reverter a decisão. “De acordo com a nova decisão de George Alves de Assis, não podemos falar nada a respeito do caso. Nem mesmo podemos nos referir ao autor da ação judicial“, continuou a nota do veículo. “Consideramos essa decisão absurda e ilegal. Nossos advogados estão recorrendo neste momento para que nosso direito de informar seja respeitado. E estamos lutando também pelo seu direito à informação. Essa é uma luta que envolve todos nós”.
A luta de Mãe Bernadete
Após o assassinato de Binho, Mãe Bernadete começou a lutar para descobrir quem matou o seu filho e levantou a bandeira publicamente contra a implatação do aterro. Em junho de 2022, a líder quilombola relatou em vídeo gravado durante uma audiência no Ministério Público Federal, que sofria “ameaças dia e noite” e cobrou pela investigação da Polícia Federal.
“O assassinato do meu filho foi federalizado e não temos resposta. É um absurdo isso, gente. Mas não pense que estamos parados não, viu?… É uma grande vergonha. Meu filho lutou pelo povo dele. Morreu lutando. Foi no dia que ele tava indo para resolver um problema da Naturalle. Ele morreu lutando. E nós não temos resposta”, disse em vídeo apurado pelo The Intercept.
Em dezembro de 2017, quando a Polícia Civil da Bahia ainda investigava o caso, Leandro da Silva Pereira foi detido preventivamente, mas depois solto sem ser indiciado. A reportagem do The Intercept teve acesso às imagens do dia do crime, entregue para as Polícia Civil e Federal, e afirma que é possível identificar a placa do carro usado para levar os criminosos até o líder quilombola e identificar o motorista. Até o hoje o caso não foi solucionado e se junta à investigação da execução de Mãe Bernadete, que também foi federalizado.
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