Com uma carreira consolidada como atriz na televisão brasileira, Juliana Alves está vivendo um novo desafio em “Volta por Cima”, novela da TV Globo onde interpreta Cida, uma motorista de ônibus do subúrbio carioca. Com quase 21 anos de carreira, a atriz que começou sua trajetória após participar do Big Brother Brasil 2003, conversou com o Mundo Negro sobre os bastidores da novela, sua evolução como atriz, maternidade e o papel do artista na luta antirracista.
“Hoje eu posso dizer que conquistei um respeito que eu não tinha antes, um reconhecimento que eu não tinha antes. E eu confesso que o que eu gostaria de conquistar na minha trajetória, principalmente, é a possibilidade de simplesmente fazer o meu trabalho de atriz. Porque uma atriz negra nas produções, uma atriz negra consciente nas produções acaba se envolvendo com outras questões que não são só o trabalho de atriz, como questões de produção, questões de texto, questões de caracterização, porque é impossível estar nos ambientes sem ter um trabalho de cuidado com as questões raciais que nos atravessam há tempos. E hoje eu utilizo o respeito e o reconhecimento que eu tenho, a voz que eu tenho, para transformar cada ambiente e contribuir com cada ambiente que eu tô aprendendo artisticamente também, mas entendendo que isso sempre será um posicionamento político, porque a gente está transformando através do nosso trabalho também, através das nossas relações”, destacou Juliana sobre os aspectos de sua trajetória como atriz.
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Juliana Alves reflete sobre 21 anos de carreira: "Conquistei respeito e reconhecimento que não tinha antes"
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A atriz estreou nas novelas da Globo em “Chocolate com Pimenta”, um ano depois de ter participado do BBB. Além de uma artista talentosa, Juliana Alves também está comprometida com a luta antirracista e com a representatividade negra no audiovisual: “No audiovisual, vejo avanços, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. É fundamental que o espaço para artistas negros seja ocupado de forma qualitativa e que os criadores pretos estejam comprometidos com a reparação histórica”.
Mundo Negro – Como foi a preparação para viver a Cida em “Volta por Cima”? O que mais te surpreendeu ao conhecer as histórias dessas motoristas mulheres?
Juliana Alves: Conhecendo mulheres motoristas e histórias, eu fiquei bastante encantada com o universo extenso que existe de possibilidades, com as histórias que essas mulheres vivem todos os dias dentro do ônibus, histórias positivas, histórias delicadas, histórias difíceis. Fiquei bastante encantada com o posicionamento delas, sabe, com a posição delas diante do que elas percebem que elas já conquistaram enquanto mulheres na sociedade.
MN – Recentemente, você interpretou personagens muito diferentes, como a modista Wanda em “Amor Perfeito” e agora a motorista Cida. Como é transitar entre personagens tão distintos e o que você mais gosta nesse desafio?
Juliana Alves: Com certeza, a oportunidade de viver personagens bem distintas é um dos grandes baratos, um dos grandes prazeres da minha carreira. Em todos os novos ciclos eu estou buscando novos desafios, eu gosto de experimentar de formas diferentes, pesquisar universos completamente diferentes. Então isso tem sido um grande combustível da minha carreira, essa oportunidade de fazer personagens que não só são diferentes entre si, mas são bem desafiadores também”
MN – Somando quase 21 anos de carreira, como você vê sua evolução como atriz desde “Chocolate com Pimenta” até agora? E o que ainda gostaria de conquistar na sua trajetória?
Juliana Alves: Eu fui evoluindo ano após ano, aprendendo. Eu já tinha o início de um estudo de atriz no início da minha carreira, mas fiz uma novela antes do que até mesmo eu esperava. Então, depois dessa primeira novela, eu me dediquei ainda mais, porque eu entendi que teria uma exposição do meu trabalho maior do que eu esperava. Eu me dediquei ainda mais ano após ano, estudei bastante e fui evoluindo trabalho após trabalho. O grande desafio da minha carreira foi a continuidade. Em muitos momentos eu me via sem estar trabalhando como atriz e precisei cuidar desses momentos. O mérito meu nessa história toda é ter cuidado dos momentos que eu não estava trabalhando, cuidado da minha cabeça, cuidado do meu espírito para que eu pudesse dar continuidade a essa carreira. E continuo aprendendo muito, continuo entendendo os ambientes que eu estou com muito cuidado, com muita humildade, com muita dedicação. E hoje eu posso dizer que conquistei um respeito que eu não tinha antes, um reconhecimento que eu não tinha antes.
E eu confesso que o que eu gostaria de conquistar na minha trajetória, principalmente, é a possibilidade de simplesmente fazer o meu trabalho de atriz. Porque uma atriz negra nas produções, uma atriz negra consciente nas produções acaba se envolvendo com outras questões que não são só o trabalho de atriz, como questões de produção, questões de texto, questões de caracterização, porque é impossível estar nos ambientes sem ter um trabalho de cuidado com as questões raciais que nos atravessam há tempos. E hoje eu utilizo o respeito e o reconhecimento que eu tenho, a voz que eu tenho, para transformar cada ambiente e contribuir com cada ambiente que eu tô aprendendo artisticamente também, mas entendendo que isso sempre será um posicionamento político, porque a gente está transformando através do nosso trabalho também, através das nossas relações
MN – Como a maternidade impactou sua carreira e sua visão sobre o trabalho?
Juliana Alves: O maior impacto que a maternidade teve na minha carreira e na minha visão sobre o trabalho foi justamente eu me perceber com essa minha capacidade de organização. Porque muitas vezes a gente subestima a nossa capacidade de ampliar responsabilidades e funções, e com a maternidade eu me tornei uma pessoa mais organizada, mais atenta e com competências em detalhes que antes eu achava que eu poderia não dar conta. Eu me sinto mais autoconfiante. A própria experiência mesmo trouxe uma carga interessante para o meu trabalho. A minha própria experiência tem sido o material que eu utilizo no meu trabalho. Eu não preciso ter todas as vivências de uma personagem para fazer uma personagem, mas certamente fazer pequenas comparações com universos diferentes dos meus a partir de cargas dramáticas, de responsabilidades que a maternidade me traz tem sido bem interessante. Além disso tudo, o meu trabalho não diz mais respeito só a mim, mas sim também aos sonhos que eu tenho cultivado e tenho realizado e quero realizar com a minha filha também.
MN – Você tem uma presença forte em movimentos sociais, especialmente na luta antirracista. Como você enxerga o papel do artista na sociedade e quais mudanças você espera ver na indústria audiovisual em relação à representatividade negra?
Juliana Alves: Eu sempre fui muito conectada com os movimentos sociais e antirracistas, algo que veio dos meus pais e se solidificou na adolescência. O papel do artista é, além de comunicar através da arte, ampliar a visibilidade e fomentar transformações. No audiovisual, vejo avanços, mas ainda temos um longo caminho a percorrer. É fundamental que o espaço para artistas negros seja ocupado de forma qualitativa e que os criadores pretos estejam comprometidos com a reparação histórica. Assim, poderemos transformar o imaginário coletivo e impactar a sociedade de forma profunda.
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