Jorge Aragão: 50 anos de poesia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

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Jorge Aragão: 50 anos de poesia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Foto: ©POSSATO

Por: Rodrigo França

Há noites em que a cidade parece se curvar diante de um artista. No Theatro Municipal, o Rio de Janeiro se vestiu de memória e futuro para receber Jorge Aragão. Não era apenas um concerto, era uma travessia por cinco décadas de palavras que viraram canções, de versos que se tornaram bandeiras, de melodias que nos ensinaram a resistir.

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Aragão entrou em cena como quem ocupa um território que sempre lhe pertenceu. Sua presença não é feita de gestos grandiloquentes, mas de uma sofisticação rara, de um pensar profundo que carrega no corpo a inteligência de quem sabe: cada samba é também uma leitura do Brasil. Ele não apenas escreve, ele decifra, revela, nomeia aquilo que muitos insistem em ocultar; nosso povo ama.

Foto: ©POSSATO

Naquela noite, não se aplaudiu somente um repertório. A plateia saudou a vida de um poeta que fez da caneta uma arma delicada, capaz de ferir a indiferença e ao mesmo tempo acariciar a alma. Canções como Malandro, Vou Festejar e Identidade soaram como documentos vivos de um tempo, lembrando que Jorge Aragão é guardião de uma herança e construtor de caminhos novos.

Convidados se revezaram no palco — Zeca Pagodinho, Liniker, Péricles, Xande de Pilares, Alcione, Raphael Logam — mas a grandeza da noite estava no fio invisível que unia todos, a história que nascia da voz do próprio Aragão. E quando suas filhas surgiram para abraçá-lo, ficou claro que a celebração era também íntima, familiar, uma partilha de afetos diante de um país inteiro.

Foto: ©POSSATO

A história do samba não pode ser contada sem ele. E, ao ocupar um palco marcado pela tradição erudita-hegemônica, Jorge Aragão mostrou que sua poesia não conhece fronteiras. O mestre trouxe a música erudita negra brasileira; o samba, com filosofia, elegância e consciência. É um Brasil que insiste em existir apesar de tudo.

Naquela noite, não vimos apenas um show. Assistimos a um marco histórico. E saímos dali com a certeza de que Jorge Aragão não canta apenas para nós, mas por nós.

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