
Executiva reconhecida pela formação de mais de 100 mil profissionais em 20 países, Íris Barbosa construiu sua trajetória da operação ao topo em empresas como McDonald’s e Apple. Agora, como presidente do Instituto Pactuá, ela transforma sua história em estratégia de impacto social, apostando na educação, na conexão e na ancestralidade como caminhos para formar uma nova geração de lideranças negras.
Do balcão à alta Direção
A trajetória de Íris começa no chão da operação. Ainda jovem, foi contratada como atendente de balcão no McDonald’s. Foi nesse ambiente, muitas vezes subestimado, que desenvolveu sua visão sobre excelência e propósito no trabalho.
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“Ali, aprendi que todo trabalho tem valor e importância — não importa se é limpar o chão ou fritar batatas. O que realmente faz a diferença é como você se entrega àquilo que faz. Se você se propõe a fazer algo, faça bem feito.”
Ela conta que esse princípio a acompanhou durante toda a carreira. “Entendi que a excelência no que fazemos não apenas gera orgulho pessoal, mas também é reconhecida pela organização. E mais do que isso: nos conecta a um propósito.”
Ao reconhecer o investimento em qualificação feito pela empresa, Íris revela gratidão: “Sou grata ao McDonald’s por me dar a primeira oportunidade de trabalho mesmo sem experiência e por sempre investir em qualificação e desenvolvimento. Isso me permitiu não só desempenhar bem minhas funções naquele momento, como também me preparou para crescer dentro da empresa e trilhar uma trajetória sólida.”
Uma virada de propósito: a liderança no Instituto Pactuá
Depois de ocupar cargos de direção na América Latina e liderar estratégias de formação global, Íris sentiu que era hora de dar um novo sentido à própria trajetória. A presidência do Instituto Pactuá surgiu como resposta a essa inquietação.
“Construí uma carreira brilhante, mas marcada por muitos sacrifícios, desafios e renúncias. Em algum momento, me perguntei: como posso contribuir para que outras pessoas, especialmente mulheres negras como eu, também alcancem espaços de liderança, mas de uma forma menos árdua e solitária?”
Transformar a própria caminhada em ponte virou missão. “A missão de ampliar esse número, de abrir portas, de mostrar que é possível sim, chegar lá. E mais: que é possível chegar com dignidade, com apoio, com oportunidades mais justas.”
Educação como política de acesso
Desde que assumiu o Instituto, Íris tem reforçado o tripé que guia sua atuação: educação, conexão e ancestralidade. Para ela, a formação não se limita ao aspecto técnico, mas atua como catalisadora de poder coletivo e de memória.
“A educação é, sim, um dos pilares fundamentais do Instituto Pactuá — mas ela caminha lado a lado com a conexão e a inspiração. Nosso objetivo é que pessoas negras ocupem posições de liderança, mostrando, na prática, todo o seu talento, sua potência e sua força.”
Ela reforça que o problema nunca foi competência, mas oportunidade. “Muitas vezes, escutamos julgamentos injustos que dizem que pessoas negras não são tão competentes, mas o que nos falta não é competência e sim oportunidades. E é justamente isso que a educação tem o poder de transformar: ela potencializa aquilo que já existe dentro de cada um.”
Formação de alto impacto e proximidade com a base
Íris liderou a capacitação de mais de 100 mil pessoas em 20 países enquanto ocupava cargos de liderança na McDonald’s. Mas ela não se apoia apenas em grandes números — para ela, o impacto real está na metodologia e na presença.
“Sempre entendi que o treinamento precisa ser rápido, eficiente e, acima de tudo, atrativo. Porque para que alguém aprenda de verdade, essa pessoa precisa querer aprender. E nós criamos um sistema que despertava esse interesse, que fazia as pessoas se engajarem genuinamente no processo.”
Ela também destaca a importância da liderança próxima. “Acredito que performance só acontece com proximidade, com as pessoas, com a liderança, com o chão da operação. Ficar apenas no escritório, distante da realidade, é perder o pulso do negócio.”
Essa filosofia tem nome e história. “Sou fruto do treinamento. Jamais teria chegado onde cheguei se não tivesse sido capacitada, tanto tecnicamente quanto no desenvolvimento de habilidades interpessoais. Essa convicção de que o treinamento transforma me guiou como líder: eu queria que o meu time tivesse as mesmas oportunidades que eu tive.”
E o impacto é concreto. “Ao longo dos anos, reencontrei muitas pessoas com quem trabalhei e que disseram: ‘Ali foi minha grande escola’. E eu me orgulho profundamente de ter feito parte dessa transformação.”
Raça, gênero e merecimento
Aos 21 anos, Íris se tornou gerente de loja. Liderava mais de 100 funcionários e coordenava uma equipe de 10 gerentes. Sua unidade foi reconhecida como a melhor do Brasil, o que lhe garantiu um curso nos Estados Unidos. Lá, dividiu a sala com três homens brancos — um contraste que não a intimidou. “E eu estava ali, com muito orgulho. Mais do que isso: com a certeza de que eu merecia estar ali.”
A experiência não foi exceção. Como mulher negra, ela conheceu as barreiras invisíveis do mercado desde cedo. “Ser uma mulher negra em posição de liderança, em um país como o nosso, é um desafio diário. Mas desde o início da minha trajetória, enfrentei esse desafio com coragem.”
Ela reforça que nada foi dado. “Sempre fui movida por esse desejo de evoluir, de mostrar que, se eu sabia, então eu podia, e devia, ocupar aquele espaço.”
O peso da entrega e o desafio do equilíbrio
Hoje, Íris fala também de saúde, um tema muitas vezes negligenciado no discurso sobre sucesso. “Conciliar os papéis de executiva, esposa, filha, mãe e ainda cuidar de si mesma sempre foi um grande desafio, e confesso que nunca encontrei esse equilíbrio da forma ideal.”
Com uma agenda intensa e uma história de entregas em ambientes de alta pressão, ela reconhece que o autocuidado precisa entrar na agenda com a mesma prioridade. Não como um luxo, mas como um pacto com a longevidade.
Liderança como ato coletivo
À frente do Instituto Pactuá, Íris Barbosa representa um tipo de liderança que mistura método e afeto, técnica e política, história pessoal e responsabilidade coletiva.
“Me perguntei como poderia transformar minha trajetória em ponte. A missão agora é essa: contribuir para que outras mulheres negras cheguem lá, mas com mais apoio, menos sacrifício, menos solidão.”
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