Ontem, domingo dia 05 de novembro de 2023, estudantes de todo o país tiveram como tarefa construir um texto dissertativo- argumentativo com o tema: Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe para o debate público um assunto que a teoria feminista, os estudos de gênero, direito do trabalhador vem, há anos, se preocupando. Cara leitora e caro leitor, preciso te alertar, logo no começo, que este texto não será uma reprodução de uma redação do Enem. Mas posso garantir (ou ao menos tentar) uma reflexão acerca do tema solicitado pelo exame.
Ao pensarmos nos cuidados com as crianças e idosos, ou nas tarefas domésticas, os ligamos, quase que automaticamente, à função das mulheres. Muitas vezes essas mulheres trabalham o dia inteiro fora de casa, possuem diversas profissões e quando finalmente chegam em casa, lhes cabem fazer comida, lavar roupa e louça, dar banho na criança, entre outras atividades, todas relacionadas a manutenção da casa e do cuidado com aqueles que necessitam de suporte. Todo esse trabalho não é nem considerado trabalho. Ele não é remunerado, é desvalorizado e por vezes invisibilizado na nossa sociedade. Não são considerados, por exemplo, pela previdência social.
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Além da questão financeira e previdenciária, não podemos esquecer que a sobrecarga leva às doenças, síndromes e sintomas, como, ansiedade, exaustão, pressão alta, depressão e burnout. O argumento que coloca sobre a mulher a responsabilidade do cuidado, o lugar “certo”, lugar fixado para mulheres geralmente gira em torno do instituto, do natural, como se a mulheres nascessem com o dom do cuidado. Esquecem que tudo isso é socialmente aprendido e assim sendo todos, repito, todos podem aprender e reproduzir.
A escritora ligada à segunda onda do feminismo Margaret Benston no texto The political economy of women’s liberation (A economia política da libertação das mulheres, em português) publicado pela primeira vez em 1969, aponta que o trabalho feito por mulheres fora do dito mercado é necessário para a acumulação capitalista, de forma quase que irônica, a não remuneração do trabalho doméstico sustenta a lógica capitalista.
O debate sobre a divisão de gênero do trabalho não pode ser pensado sem levar em consideração a raça. No Brasil, as mulheres negras são maioria entre as mães solos, sendo elas as que mais necessitam das creches públicas, por exemplo. Provavelmente, você já deve ter notado que a invisibilidade do trabalho de cuidado é uma problemática que precisa ser enfrentada no âmbito público, privado e que perpassa por inúmeras questões, como a desconstrução de papéis de gênero fixos, que reforçam a superioridade masculina e o patriarcado e consequentemente intensifica a opressão de gênero. O machismo é estrutural e assim sendo, sustentam as relações sejam elas de trabalho, familiares e afetivas. Cabe a todos o enfrentamento desses desafios. Tanto nas nossas relações interpessoais, quanto nos movimentos sociais e cobrando políticas públicas, uma vez que também é responsabilidade do Estado eliminar as desigualdades de gênero.