No último sábado, 3, o Ilê Axé Omó Nanã, terreiro de Candomblé localizado na zona leste de São Paulo, recebeu a socióloga Patricia Hill Collins para um encontro de trocas e fortalecimento da comunidade. O evento intitulado “Re-encontro ancestral: Giro epistemológico” reuniu mulheres de terreiro em um diálogo sobre histórias, projetos e a importância da presença negra na academia.
Organizado pelo GEMA-Grupo de Estudos sobre Mediação e Alteridade, liderado pela professora Melvina Araújo do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), o encontro contou com a participação do Grupo de Pesquisa Laroyê da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) da UNIFESP, campus Guarulhos, em parceria com o Instituto de Estudos e Pesquisas Ilê Axé Omó Nanã. Além disso, várias organizações negras e periféricas, com atuação política e cultural, marcaram presença, incluindo a Frente Nacional de Mulheres do Funk, Lentes Malungas, Ocupação Cultural Jeholu, Instituto Sumaúma, Quilombo Periférico, Projeto Cabaça, entre outros.
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Durante todo o dia, os participantes tiveram a oportunidade de vivenciar parte dos rituais de início de atividades oferecidos a Exú, entidade do Candomblé, além de trocar experiências sobre projetos e atividades desenvolvidas pelas filhas da casa e pelas Iyalorixás das casas parceiras. A visita também incluiu um tour pela horta do terreiro e momentos de partilha de comidas típicas, conhecido como Ajeum.
A presença de Patricia Hill Collins no terreiro foi considerada um marco importante pela Iyalorixá Adriana de Nanã, que rege o espaço. Segundo ela, “levar uma pesquisadora como Patricia Hill Collins dentro de uma casa de terreiro de candomblé foi fundamental para que a relação entre a academia e as religiões de matriz africana fosse revista. Ela trocou experiências conosco, protagonistas, mulheres pretas de terreiro, numa casa majoritariamente preta e feminina, e encontrou outras potências de mulheres de terreiro. Isso representa uma quebra de paradigmas, pois a matriz africana e os terreiros são frequentemente colocados como primitivos e folclóricos, sendo tratados apenas como objetos de pesquisa, e não como uma ponte potente de desenvolvimento humano. E foi isso que apresentamos a ela”.
A professora Doutora Ellen de Lima Souza, avaliou o evento como um “reencontro ancestral com a universidade no terreiro, uma encruzilhada pedagógica entre ensino, pesquisa e extensão mediada por valores como oralidade, corporalidade e ancestralidade. Nossa expectativa é que essa atividade seja fértil e possibilite muitas outras”.
Patricia Hill Collins é uma das precursoras do conceito de interseccionalidade, ao destacar a importância de levar em conta os diferentes sistemas de opressão que incluem raça, gênero e classe social para entender as diferentes experiências discriminatórias enfrentadas por indivíduos de acordo com o grupo social ao qual pertencem.