O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN) reinaugura a exposição permanente do Museu Memorial Pretos Novos, no Rio de Janeiro, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo, no dia 09 de junho, às 18h.
Ela foi construída sobre três eixos principais: 1. Matriz Africana – na qual o visitante poderá compreender melhor sobre as diferentes civilizações africanas antes de serem escravizadas e suas contribuições para as ciências, tecnologias e artes. 2. Mercado da escravidão no Brasil – foi traçado um percurso temporal desde a chegada dos primeiros grupos de escravizados, a brutalidade que eram submetidos e a constituição do Complexo do Valongo, no ápice do tráfico escravagista no Rio de Janeiro. 3. A tentativa de apagamento da memória da escravidão na Pequena África, o descobrimento do sítio arqueológico pela família Guimarães dos Anjos e os seus desdobramentos.
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O curador atenta que é preciso ampliar o campo de visão para uma abordagem mais realista e menos colonialista sobre a escravidão no Brasil. O sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos é uma ferida aberta na sociedade e se apresenta como testemunho de um genocídio africano em terras brasileiras. Esta falta de entendimento histórico fomenta a manutenção de uma sociedade brasileira racista e violenta.
Novas escavações e laboratório de arqueologia interativo já têm data para começar
Cinco anos após a última escavação, a equipe de arqueologia do (PPGArq/Museu Nacional/UFRJ) volta a campo para realizar novas buscas. Sob o comando da professora Dra. Andrea Lessa, o início do trabalho está previsto para julho, exatamente no local destinado ao novo laboratório. Com uma proposta, até então, inédita, um dos principais objetivos é comparar os estudos já realizados nas escavações anteriores, com esta nova área que nunca foi tocada.
”Estou muito entusiasmada com essa nova etapa da pesquisa, uma vez que será escavada uma área diferente do cemitério, mais central. Assim, por um lado, será possível verificar se as informações inicialmente obtidas sobre a dinâmica de ocupação são válidas para todo o espaço; e ao mesmo tempo esperamos encontrar um número maior de estruturas funerárias intactas, o que será fundamental para ampliarmos o entendimento sobre as práticas funerárias e sobre os indivíduos ali enterrados”, diz.
Lessa destaca ainda que esta pesquisa busca revelar um pouco mais sobre a vida e a morte dos cativos africanos, atores sociais protagonistas na formação social e cultural brasileira.
”Após tanto tempo de esquecimento, reconhecer o Cemitério dos Pretos Novos Novos como um importante patrimônio nacional e como um local sagrado para a população afrodescendente representa um resgate histórico obrigatório e um meio eficaz de preservação da nossa memória”, conclui a arqueóloga.
Além das informações atualizadas levantadas a partir das pesquisas arqueológicas, o espaço expositivo terá um laboratório arqueológico que vai permitir o público na galeria acompanhar ainda mais de perto o trabalho dos profissionais, através de uma janela generosa.
Em 08 de janeiro de 1996, os Guimarães dos Anjos faziam uma descoberta que mudaria definitivamente o rumo de suas vidas e da história carioca quando, a partir da reforma de sua residência na Gamboa, foi encontrado o Sítio Arqueológico Cemitério dos Pretos Novos – logo no primeiro dia de obra durante uma manutenção na casa em que vivem até os dias de hoje. Desde a sua fundação, em 13 de maio de 2005, a família tem se mobilizado para preservar o sítio arqueológico e reverenciar a memória dos quase 60 mil corpos despejados naquele pequeno terreno.
A presidente do IPN, Merced Guimarães dos Anjos revela que a resistência de sua família durante todos esses anos garante a continuidade das ações. ”O que, de fato, interessa é poder preservar este patrimônio e colaborar para que esta história não seja esquecida jamais”; reitera a diretora.
Programação dobrada com abertura da exposição ”Erva Santa”, do artista visual Geleia da Rocinha
As obras da série “Alguidar” trazem o talento e olhar do artista, nascido e criado na favela da Rocinha, através de ervas sagradas utilizadas nos ritos das religiões de matriz africana para a galeria de arte contemporânea. O curador do IPN, Marco Antonio Teobaldo, destaca que desde sua fundação (em 2005) o espaço se transformou em um lugar de respeito à memória daqueles que por ali passaram, mas principalmente de resistência.
”A exposição Erva Santa marca a reabertura da galeria de arte contemporânea e se apresenta como um instrumento de divulgação dos saberes das religiões de matriz africana e também como inspiração para o combate ao racismo religioso, que vem crescendo nos últimos anos, sobretudo no estado do Rio de Janeiro” – acrescenta Teobaldo.
Além do Museu Memorial e da Galeria de Arte Contemporânea, o IPN também conta com uma Biblioteca e ainda um auditório constantemente ocupado com a programação de oficinas ao longo de todo o ano. Após quase dois anos de distanciamento social, o Museu já se encontra funcionando normalmente. As visitações são gratuitas de terça a quinta-feira (10h às 16h) e pagas às sextas-feiras (10h às 16h) e sábados (10h ao meio dia) com ingressos a R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia entrada).
*Texto: Priscila Bispo
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