Texto: Juliane Sousa
A pauta do clima, além de urgente, é atravessada por profundas interseccionalidades que refletem as desigualdades de gênero, raça e renda no Brasil. Basta ver como as mulheres negras, historicamente marginalizadas, enfrentam de forma desproporcional os impactos das recentes crises climáticas que assolam o país.
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Nas periferias, nos quilombos, nas populações ribeirinhas, em qualquer lugar é possível sentir as consequências ora das enchentes ora da seca. As famílias de comunidades pobres, predominantemente negras, se veem obrigadas a deixar suas casas e suas vidas de uma hora para outra. O racismo ambiental se impõe sobre as mulheres que, sem acesso a recursos, convivem com a incerteza do amanhã em áreas suscetíveis a desastres naturais.
É fato: as políticas ambientais no Brasil ignoram as necessidades específicas das mulheres negras e periféricas. E pior, as ações climáticas voltadas para a mitigação de danos raramente consideram essas mulheres como protagonistas das mudanças que, na prática, influenciam diretamente suas vidas. Ao contrário, muitas políticas são formuladas de maneira descontextualizada e restrita, sem a devida representatividade na hora da decisão.
Muitas dependem de atividades econômicas como a agricultura familiar e o artesanato, quase sempre afetadas pela degradação ambiental. A atual seca na região Norte, por exemplo, leva à perda de colheitas, gerando uma maior vulnerabilidade às mulheres e suas famílias. Longe de ser um acaso do destino, este cenário é uma extensão da injustiça social no Brasil.
As estruturas racistas e violação de direitos básicos que marcam a sociedade brasileira amplificam os impactos climáticos sobre essas mulheres, que deveriam estar presentes não em situações de perigo, mas sim nos espaços de tomada de decisão para conter os impactos climáticos. Suas vozes e necessidades precisam ser representadas. É papel das empresas, governos e sociedade civil atuarem juntos para garantir a promoção da equidade de gênero e raça também na formulação de políticas ambientais
Iniciativas como o Coletivo Pretas B, do Sistema B Brasil, são exemplos de que é possível promover um ambiente de decisões mais inclusivo e representativo, que valorize essas mulheres e amplifique suas vozes e opiniões na busca por um país mais justo e sustentável. Empresas B certificadas, com suas práticas de responsabilidade social, são capazes de direcionar investimentos para comunidades economicamente vulneráveis, promovendo adaptações climáticas e capacitação dessas populações, especialmente as mulheres, para resistirem às crises ambientais.
A justiça climática é, antes de tudo, uma questão de direitos humanos. Sem equidade, sem inclusão, sem a voz e a experiência das mulheres negras, não há como pensar em soluções para essa questão no Brasil.
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Juliane Sousa é jornalista quilombola e gerente de Comunicação e Marketing do Sistema B Brasil*