Essa semana uma amiga me enviou uma postagem que relatava o racismo sofrido pelo cantor Xamã, um homem indígena, acerca de uma foto que ele havia tirado com a namorada, a atriz Sophie Charlotte. Na postagem, numa rede social, as pessoas comentavam sobre a “inferioridade” da beleza dele em relação a ela, considerada mulher branca. Frases como “ele parece um mendigo”; “ela é bonita, já ele tem cara de pedreiro”; “esse cara de índio não te merece”; entre outras tão ou mais absurdas. A ideia da miséria associada à pessoa indígena, assim como a ausência de higiene e a inferioridade se apresentam com força nesses comentários de uma imagem na rede social. O mesmo ocorre em relação ao homem negro em diversas situações.
Aqui, nesta coluna, que escrevo há um pouco mais de um mês, tenho falado sobre a construção das masculinidades negras e as violências a que os homens negros são submetidos incansavelmente. Se você me acompanha por aqui, vai se lembrar do termo “eunuco social” que Henrique Restier, o antropólogo, retrata no livro Masculinidades negras contemporâneas, ao falar sobre o fato de que o homem negro não podia relacionar-se com a mulher negra para não haver maior reprodução de indivíduos negros na sociedade brasileira e não podia relacionar-se com a mulher branca para não “sujar a barriga” dela. Logo, o homem negro era o grande problema social. ele não deveria existir, socialmente. Assim, também, o homem indígena.
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O genocídio do homem indígena, considerado a partir da leitura da branquitude como o “indivíduo selvagem” e o genocídio do homem negro, conhecido como o “ser violento”, tentam justificar o desejo de apagamento de tudo aquilo que se difere do ser branco, ao longo da história. E vejam, se o homem indígena, como trazido no início desse texto, não serve para se relacionar e, até mesmo, casar, assim como o homem negro, esse papel social cabe, somente, ao homem branco. Ele é aquele que pode constituir e cuidar de uma família. Cabe ao homem negro, a partir da lente da branquitude, a irresponsabilidade, a promiscuidade e a miséria. Aspectos esses que jamais lhe possibilitarão ser visto na sociedade como aquele que pode construir uma família e ser respeitado.
A branquitude criou e fortaleceu a ideia de que o homem negro não foi feito para o casamento e/ou para as relações duradouras. Ao longo da história, o homem negro nunca circulou no imaginário das pessoas que desejavam se casar, principalmente nas relações heterossexuais.
Há muitos questionamentos se avançamos bastante. A postagem citada no início do texto nos mostra que o racismo segue firme e forte aplicando as violências contra os homens indígenas e, também, contra os homens negros.
Como superar essas práticas racistas? Primeiramente, essa sociedade vai precisar admitir-se racista. Depois vai precisar começar o processo de humanização do homem negro e do homem indígena. É possível que eu não esteja aqui para ver e escrever sobre essa mudança! Todavia, sigo trabalhando para que os que virão depois de mim a vejam!
Texto: Luciano Ramos – Especialista em Masculinidades Negras e Diretor do Instituto MAPEAR