
A Universidade Harvard entregará ao Museu Internacional Afro-Americano, na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, fotografias de 175 anos consideradas as mais antigas de pessoas escravizadas nos país. A decisão faz parte de um acordo judicial com Tamara Lanier, que afirma ser descendente de Renty e Delia, retratados nas imagens.
Os daguerreótipos — precursores das fotografias modernas — serão transferidos do Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia, de Harvard, para o museu na Carolina do Sul, estado onde Renty e sua filha Delia foram escravizados em 1850, quando as fotos foram tiradas. O anúncio foi feito na quarta-feira (28) por Joshua Koskoff, advogado de Lanier, que classificou o acordo como uma vitória “sem precedentes” para descendentes de escravizados, durante entrevista concedida para a Associated Press.
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“É um caso único na história americana”, disse Koskoff. “Ganhar controle sobre imagens de pessoas escravizadas que datam de tanto tempo — isso nunca aconteceu antes”, contou. As negociações encerram uma batalha judicial de 15 anos entre Lanier e Harvard, que detinha as imagens encomendadas pelo biólogo Louis Agassiz, cujas teorias racistas foram usadas para justificar a escravidão. Em 2019, Lanier processou a universidade, alegando que as fotos foram tiradas sem consentimento e retidas ilegalmente. O processo também criticou Harvard por lucrar com o licenciamento das imagens.
Em 2021, a Justiça de Massachusetts decidiu que as fotos pertenciam ao fotógrafo, não aos retratados, mas permitiu que Lanier buscasse indenização por danos morais. O tribunal reconheceu a “cumplicidade de Harvard nos horríveis atos que cercaram a criação dos daguerreótipos”.
Harvard afirmou em comunicado que há anos buscava “colocar as imagens em contexto apropriado” e ampliar o acesso a elas. O acordo inclui a transferência das fotos e um valor não divulgado em reparação, mas a universidade não reconheceu publicamente a descendência de Lanier ou seu vínculo com a escravidão.
Na quarta-feira, Lanier segurava um retrato de Renty ao lado de Susanna Moore, tataraneta de Agassiz. Ambas celebraram a resolução: “Esta propriedade roubada, imagens tiradas sem dignidade ou consentimento, será repatriada para um lar onde sua humanidade possa ser restaurada”, disse Lanier. Moore chamou as fotos de “projeto profundamente racista” e afirmou que a vitória mostra como “o significado desses objetos em museus pode e deve mudar”.
Tonya M. Matthews, CEO do museu na Carolina do Sul, disse que a transferência das imagens foi um momento que levou “175 anos para ser feito”. A instituição se comprometeu a incluir Lanier nas decisões sobre como a história de Renty e Delia será contada. Koskoff ressaltou que, apesar do acordo, Harvard ainda não assumiu publicamente seu papel na perpetuação da escravidão. “A verdade vai te encontrar — você só consegue se esconder dela por um tempo”, disse.
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