Texto e entrevista: Janaína Bernardino
As Olimpíadas de Paris 2024, que se encerraram no dia 11 de agosto, provaram que o Brasil não é apenas o país do futebol – e isso já há muito tempo. Outras modalidades, como o atletismo, a ginástica e o surfe, também mostraram a que vieram, junto de grandes atletas que estão fazendo história, não só mundialmente, mas também bem pertinho de nós.
Notícias Relacionadas
Netflix anuncia documentário sobre trajetória de Mike Tyson
ONU lança Segunda Década Internacional de Afrodescendentes com foco em justiça e igualdade
Enquanto o mundo estava vidrado na Cidade Luz, outra competição, a nível estadual – o Campeonato Paulista de Atletismo Sub-18 – acontecia nos bastidores, revelando novas promessas do esporte. Como o caso do jovem de 17 anos, Gabriel Tiburcio (@iam__tiburcio), que, há poucas semanas, conquistou em dose dupla o título de campeão paulista de atletismo nas provas de 100 e 200 metros rasos.
Velocista há dois anos, Tiburcio representa a cidade de Ribeirão Preto pelo projeto Atletismo e Cidadania, da Associação dos Amigos do Atletismo (AAARP – @atletismoaaarp). Em uma entrevista exclusiva ao Mundo Negro, o atleta em ascensão revela seus próximos passos, sonhos, a importância do apoio da família e como é carregar o título de campeão.
Mundo Negro: Como você se descobriu velocista?
Gabriel Tiburcio: “Fui fazer um teste pela minha escola na Cava do Bosque, complexo esportivo de Ribeirão Preto. Era minha primeira vez correndo, e o intuito era ver quem iria para a JASP, uma competição escolar. Corri os 100 metros, minha prova hoje, e fiquei encantado. Naquele momento, senti felicidade; descobri o meu esporte. Na pandemia, em 2021, conheci o projeto Atletismo e Cidadania, e decidi fazer parte. Mas, só em agosto de 2022 comecei a treinar. Quando minha mãe me deu a notícia que tinha dado certo minha vaga, no outro dia cedo estava na Cava, conheci o professor Marcão, construí uma segunda família e sigo até hoje.”
Mundo Negro: Como é a sua relação com o atletismo?
Gabriel Tiburcio: “Minha relação com o atletismo chega a ser engraçada e, às vezes, até um pouco estranha. Sempre gostei de ver o Bolt correndo (e quem não gosta, não é mesmo?), mas meu foco era no futebol. Foi só durante a pandemia que comecei a estudar mais sobre o atletismo e a nutrir esse amor, hoje platônico. Estar na pista e treinar é o meu momento de paz; sei que ali, tudo vai passar, e eu vou embora melhor do que cheguei. Costumamos dizer, eu e os outros garotos da equipe, que praticar atletismo cansa o corpo, mas descansa a mente”.
Mundo Negro: Como você se sentiu ao ganhar a competição?
Gabriel Tiburcio: “Foi um mix de emoções; um filme passou na minha cabeça. No ano passado, nessa mesma competição, eu havia ficado em terceiro nos 100 metros e em segundo nos 200. Prometi que este ano seria meu, que treinaria o quanto fosse necessário para me tornar campeão estadual. Não tem como não pensar nas dores e em tudo que passei para chegar até aqui. Fiz uma promessa para mim mesmo, me dediquei e deu certo. Foi muito gratificante!”
Mundo Negro: Qual foi o seu maior desafio durante o estadual?
Gabriel Tiburcio: “Um dos meus maiores desafios foi o clima e a dor que eu estava sentindo na panturrilha. Cheguei a pensar em não correr os 200 metros, mas, assim que entrei na pista, a adrenalina foi ainda maior, e, graças a Deus, não me machuquei nem me lesionei”.
Mundo Negro: Como você enxerga sua evolução até o título estadual?
Gabriel Tiburcio: “O atletismo trouxe uma evolução significativa para minha relação com o esporte e para minha vida pessoal. Passei a ter mais paciência e a entender que as coisas não acontecem no momento ou na velocidade que desejamos; isso foi essencial para eu chegar a ser campeão estadual. Além disso, teve muito trabalho, treinos intensivos, as dores que todo atleta enfrenta e a necessidade de abdicar de saídas noturnas para descansar, pois sabia que no dia seguinte teria treino”.
Mundo Negro: Quais são os próximos objetivos após essa vitória?
Gabriel Tiburcio: “O foco é continuar treinando para minha próxima competição, o Brasileiro sub-18, em Recife. A ideia é se tornar também campeão brasileiro”.
Mundo Negro: Como é o apoio da sua família?
Gabriel Tiburcio: “Minha família é a base de tudo. Eles sempre fizeram e fazem de tudo para me ajudar e dar suporte: me levar às competições, comprar sapatilhas novas quando preciso, ou suplementos, e até organizam rifas. Me sinto feliz e privilegiado, pois sei que muitos não têm o mesmo apoio, que faz toda a diferença”.
Mundo Negro: O que te inspira a continuar dedicado ao atletismo?
Gabriel Tiburcio: “O que mais me inspira a continuar dedicado ao atletismo é o apoio que recebo da minha família, da minha escola e do meu relacionamento. Ver minhas conquistas, melhorias nos meus tempos, estar em uma boa colocação no ranking brasileiro e saber que sou inspiração para alguém da minha cidade, ou até mesmo do país, é o que me motiva a cada dia.”
Mundo Negro: Quem são suas referências no esporte?
Gabriel Tiburcio: “Uma das minhas inspirações é o Paulo André, alguém que pensei: “um dia quero correr igual a ele”. O Bolt também, né? Referência para todo velocista e o Noah Lyles”.
Mundo Negro: Como você se vê daqui a alguns anos?
Gabriel Tiburcio: “Me vejo com uma boa situação financeira e, quem sabe, daqui a alguns anos, indo para a minha primeira Olimpíada e até mesmo me tornando recordista olímpico ou mundial.”
Mundo Negro: Durante as Olimpíadas, o bolsa atleta foi um dos temas levantados. Qual a importância desse investimento e o que ainda precisa melhorar?
Gabriel Tiburcio: “Eu sou bolsista e sei a importância desse investimento, ficamos mais motivados a treinar e a ter melhores resultados. Além de suprir uma demanda que às vezes a família não consegue atender, como comprar equipamentos, sapatilha ou suplementos, digo isso não apenas em relação ao Atletismo, mas o esporte no geral. Temos alguns exemplos que mostram o quando a bolsa deve ser valorizada, o Mauricio, indo para a final do Dardo com uma classificação muito boa, o Caio Bonfim, que veio também de um projeto social e conquistou a medalha de prata; faz a diferença!”
Notícias Recentes
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas
Leci Brandão celebra 80 anos e cinco décadas de samba em programa especial da TV Brasil