Quiseram nos destruir, nossa história, nossa memória, nossas conquistas. Trabalharam durante quatro anos para apagar a existência da Fundação Cultural Palmares, mas o machado de Xangô resistiu e se impôs. Chegado o final de ano, é o momento de fazer considerações sobre o exercício de contar como tem sido a luta de uma das lideranças mais importantes do país: João Jorge, presidente da Fundação Cultural Palmares.
O Ministério da Cultura tem um dos menores orçamentos do país, e a Fundação Cultural Palmares um dos menores orçamentos do Ministério.
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Todos os dias o ex-presidente da Fundação Palmares executava uma maldade administrativa: deslocando funcionários, esvaziando o papel da Fundação, desassistindo as comunidades quilombolas, achincalhando a memória de personalidades negras, não investindo em atividades culturais da comunidade negra e apostando na falida ideia de democracia racial negando o racismo na sociedade brasileira.
A herança deste trabalho quotidiano de ódio à luta do movimento negro, não foi pequena e não poupou nem o símbolo do machado de Xangô, na logomarca da Fundação.
O desrespeito às Ialorixás e aos Babalorixás levou muito sofrimento a todos os religiosos de matriz africana, deixou marcas e cicatrizes que levará muito tempo para serem superadas. Há certas dores que não passam com o tempo, mas são reavivadas pelo tempo.
A direção da Fundação Palmares tem que conviver com estes atos simbólicos que perpassam uma estrutura administrativa de 25 pessoas no total. Sim, a Fundação que tem a responsabilidade de gerir e propor iniciativas da cultura negra para o país mais negro de toda América só tem 25 funcionários.
Se o presidente Lula e o Congresso Nacional ouvissem o clamor do movimento negro e dos artistas negros do país, dariam um novo sentido para a Fundação: um orçamento que sinalizasse o respeito à população negra do país.
No mês de novembro, a Fundação realizou na cidade de Maceió e na Serra da Barriga os Diálogos Palmarinos na Celebração dos 328 anos de imortalidade de Zumbi e Dandara, realizando, para discutir sobre Patrimônio e Memória e um ato político -cultural no Parque Memorial Zumbi dos Palmares, na Serra da Barriga. Com a participação de lideranças do país inteiro.
Uma ação muito importante da Fundação foi a revogação de atos institucionais (portarias e decretos) que iam contra a missão da Fundação, por exemplo, a portaria que dificultava a auto identificação das comunidades quilombolas e a que excluiu personalidades negras do site da Palmares, dentre outros.
Com recursos muito escassos, a Fundação lançou sete editais de fomento para áreas de música, literatura, mobilidade cultural e quilombolas. E iniciou-se a rearticulação diplomática com países africanos, através do Itamaraty e embaixadas, inclusive realizando viagem para participar no Panafest, em Gana, com uma delegação composta por membros do governo da Bahia, da prefeitura de Salvador.
Um ato importante e a reinstalação da sede da FCP no setor de autarquias para funcionamento da “Casa da Cultura afro brasileira“, ou seja, local onde além de escritórios contenha um centro cultural.
Um gesto simples, de muito impacto e simbólico foi o resgate da logo da Palmares, usando o machado de Xangô, nas peças institucionais. É um novo início, de uma nova era.