No último domingo (30), o Ministério das Relações Exteriores da França anunciou a suspensão da ajuda ao desenvolvimento e assistência orçamentária ao Burkina Faso. Essa decisão vem em meio a uma série de acontecimentos políticos na região. Recentemente, Burkina Faso e Mali declararam que qualquer intervenção militar contra os novos governantes militares no Níger seria interpretada como uma “declaração de guerra”. Os países africanos também se aproximaram da Rússia.
“A França suspendeu ajuda ao Burkina Faso em resposta direta às recentes decisões da política externa do país, representado por seu atual presidente, o capitão Ibrahim Traore, que vem estreitando laços diplomáticos com a Rússia de Vladimir Putin”, explica o Mestre em Educação pela UFRJ, João Raphael Ramos. “Vale lembrar que um golpe militar ocorreu em 24 de janeiro de 2022, quando um grupo de soldados de alta patente depuseram o presidente Roch Marc Christian Kaboré. O novo regime, liderado pelo coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, foi deposto em setembro do mesmo ano por Ibrahim Traore justificando o afastamento de Damiba pela incapacidade do líder lidar com um levante armado“.
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Liderado por Emmanuel Macron, os projetos franceses de ajuda ao desenvolvimento para o Burkina Faso totalizavam 482 milhões de euros. João Raphael explica que o Burkina Faso enfrenta um futuro incerto. “A suspensão da ajuda francesa pode significar um duro golpe para o Burkina Faso ao longo prazo, caso não haja cooperação e reconhecimento internacional ao seu atual governo, em especial com a situação instável no Sahel que parece agora mergulhado no conflito do Níger“, diz ele.
Em nota, o presidente do Burkina Faso, Ibrahim Traore, declarou que o corte da França ‘não matará’ seu país. “Recebemos ajuda francesa há 63 anos, mas nosso país não se desenvolveu, então cortá-la agora não nos matará, mas nos motivará a trabalhar e confiar em nós mesmos”, declarou o chefe de Estado. João Raphael explica que o governo de Tratore vem representando a ascensão de lideranças comprometidas com a autonomia do povo africano.
“A reação da liderança de Burkina Faso, bem como seus recentes posicionamentos tem alçado o líder Traore ao título de legado de Thomás Sankara, liderança histórica na independência do país, que em 4 anos de governo (entre 1984 e 1987) implementou mudanças fundamentais no país, além de defender o sonho de um continente africano unido e livre dos imperialistas“, diz João Raphael, que explica ainda a forma como os governantes europeus possuem interesse nos recursos naturais de países africanos. “Traore, no auge de seus 34 anos, enquanto o presidente mais novo do mundo, pode representar a ascensão de lideranças comprometidas com a autonomia do povo africano unido e verdadeiramente independente, o que parece ser pelo que o continente urge, mas enfrenta em seu caminho o mesmo desafio de seus antecessores: o interesse de seus ex-colonizadores pela exploração dos recursos naturais de seu país e as instabilidades históricas características da região“.
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