Há 23 anos, uma amiga, mãe de gêmeos, precisava pegar um ônibus municipal para se locomover de um bairro para outro para garantir a presença dos bebês na creche. Hoje, em 2023, eu, uma mãe preta e gemelar, preciso fazer o mesmo para garantir a educação das minhas filhas, mesmo com uma creche a menos de cinco minutos de casa.
Desde novembro do ano passado, eu só ouço negativas para a transferência das minhas filhas. Passei um turbilhão em home office enquanto cuidava das duas na temida fase dos dois anos, que quem é mãe e pai entende. E na última semana, dia 2 de fevereiro, que elas deveriam voltar às aulas na nova creche, só hoje, dia 10, depois de muita insistência, consegui a transferência, só que para uma unidade ainda mais distante do que as que elas já estavam matriculadas.
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Imagine a situação: a Prefeitura de Cotia, na Grande São Paulo, não disponibiliza vaga em uma creche próxima, também não me disponibiliza van escolar gratuita e me mandam para um bairro, em que preciso pegar um ônibus, cujo trajeto é mais de meia hora e eu ainda preciso caminhar a pé por mais 15 minutos, com as duas bebês, todos os dias. Nem as vans particulares fazem esse trajeto.
Essa é uma das razões pela qual as crianças negras são as que menos têm acesso à educação infantil. As prefeituras não investem como deveriam na primeira infância. Não investem em mais creches de forma proporcional para cada bairro.
O direito à educação das minhas filhas está sendo negligenciado e a responsabilidade de um órgão público sendo jogado nas costas de uma mãe preta que já trabalha todos os dias para garantir o sustento da família.