Fabiana Cozza, como Ivone Lara: “Renuncio ao sentir no corpo a dor de perder a cor e o meu lugar de existência”

0
Fabiana Cozza, como Ivone Lara: “Renuncio ao sentir no corpo  a dor de perder a cor e o meu lugar de existência”

A discussão sobre colorismo ganhou força nessa última semana nas redes sociais, por conta da escalação da cantora Fabiana Cozza, como interprete da sambista e militante Dona Ivone Lara, no espetáculo Dona Ivone Lara: O Musical – Um Sorriso Negro.

Ao sair anúncio da cantora, filha de mãe branca e pai negro, muitos usaram a página do espetáculo no Facebook, para criticar a decisão a produção artística. A maioria reconhecia o talento da cantora, mas achavam inadequada a escalação de uma artista de pele mais clara para interpretar uma sambista de pele retinta.

Notícias Relacionadas


Fabianna Cozza é muito respeitada dentro da comunidade negra, não negando suas origens e valorizando a ancestralidade africana em seus shows, além do samba, em sua forma mais pura e tradicional.  Por isso entre a maioria das manifestações online, seu talento não foi criticado e sim o tom da sua pele, visto que a experiencia de vida de quem é mais escuro é diferente de quem tem um tom de pele mais claro. Seja na questão afetiva ou profissional, que é mais escuro sofre mais racismo e isso é biograficamente relevante.

Depois de tanta polêmica, a cantora decidiu publicar uma carta neste domingo, 3 de junho, renunciado o papel no musical. Ela lamenta por ter tido sua negritude questionada e disse que discutir racismo, “virou coisa de gente politicamente correta”. “E eu sou o avesso. Minha humanidade dói fundo porque muitas me atravessam. Muitos são os que gravam o meu corpo. Todas são as minhas memórias”, escreve Cozza em sua carta.

No texto ela chega a reconhecer que o seu tom de pele, não é o adequado. “Renuncio porque a cor da pele de Dona Ivone Lara precisa agora, ainda, ser a de outra artista, mais preta do que eu”.

Se posicionar contra ou deixar rolar?

Críticas aos críticos. Muitos textos e posts em favor a escalação de Cozza defendiam a cantora atacando os opositores a sua escalação.

A defesa da cantora mestiça é legítima, mas é preciso questionar os critérios de escalação de produções artísticas onde há um certo tipo físico que não é escalado nem para interpretar seu semelhante.

Críticas pessoais nem vale o tempo de leitura, mas questionar o colorismo vale e muitas vezes uma tensão é necessária para que avancemos.

Há uma linha muito tênue entre minimizar as críticas e abraçar a utopia da democracia racial.

Finalmente temos voz, elas são múltiplas. Brancos não são uníssonos, por que negros seriam?

 

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display