“Eu sou porque nós somos”: O poder das experiências internacionais na carreira de profissionais pretos

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“Eu sou porque nós somos”: O poder das experiências internacionais na carreira de profissionais pretos

Texto: Viviane Elias Moreira

Se tem uma coisa que aprendi, desde do meu primeiro suposto emprego como entregadora de panfleto e só confirmei ao longo da caminhada corporativa é que ninguém cresce sozinho. O mundo profissional, especialmente para nosso povo, é um jogo muito mais complexo do que aquela partida de UNO nas viagens familiares: cheio de desafios e barreiras invisíveis. Mas o que acontece quando a gente sai da nossa bolha, expande horizontes e leva nossa identidade para novos espaços de forma coletiva e proativa?

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Acontece o óbvio que tanto falamos, tatuamos, mas pouco praticamos no mundo corporativo: a mágica da filosofia UBUNTU, essa sabedoria africana que nos lembra que “eu sou porque nós somos”. Nossa força não está só no que conquistamos individualmente, mas no que podemos construir coletivamente e, a minha última experiência foi justamente criada a partir de uma pergunta, lá no início de 2024, que se tornou um “chamado” para mim e para mais de 20 mulheres negras em posições de liderança que buscavam para além do desenvolvimento executivo tradicional, aquele que define uma carreira somente com a lupa americana e eurocentrada. A pergunta foi: Bora?

A responsável por esta pergunta foi a Jess Sandin, que assim como tantas mulheres negras que bugaram o sistema, através de uma trajetória executiva de mais de 17 anos construída na área de rh com passagens em multinacionais como Mastercard, Nubank e Netflix Brasil. Após uma carreira marcada por conquistas significativas, como ser diretora de RH aos 30 anos e liderar projetos globais, Jess decidiu canalizar sua expertise e paixão por culturas diversas em um projeto inovador: o A-Experience®.O A-Experience® é uma jornada de 10 meses, cuidadosamente planejada, que inclui preparação, imersão e acompanhamento pós-experiência. É sobre nós, porque ele foi feito por mãos, objetivos, desejos, conexões e empoderamentos de pessoas pretas para pessoas pretas. Obviamente, aliados participaram desta construção, mas não no papel de protagonismo e sim no papel de concessão de privilégios para viabilizar que estas mulheres conseguissem aproveitar 100% a proposta do programa: imersão em inglês britânico como diferencial, mentorias, networking estratégico, autoconhecimento e conexão com a cultura africana, criando uma experiência transformadora. “O objetivo do programa é, de uma forma completamente diferente do comum, equipar as participantes com as ferramentas, networking e autoconhecimento necessários para liderar com excelência em ambientes complexos e dinâmico. Quero que as participantes se sintam confiantes, equipadas, preparadas e apoiadas para assumir desafios ainda maiores em suas carreiras. Por isso, o programa tem uma curadoria de atividades para fortalecer mente, corpo e coração, e eu faço questão de acompanhar o grupo ao longo de todo o processo”, explica Jess.

O convite para conhecer a África do Sul com as suas convergências e divergências, inicialmente desperta o nosso lugar de não pertencimento ou de construção de barreiras mentais clássicas. Quantas vezes você já viu alguém brilhando lá fora e pensou: “nossa, que incrível, mas isso não é para mim”? Mas é. Esse pensamento ainda é fruto de uma estrutura que historicamente tentou nos limitar e quando vemos pessoas pretas ocupando espaços globais, negociando, liderando, empreendendo e inspirando, entendemos que esses lugares também podem – e devem – ser nossos e vou além: para você e para todos os outros profissionais pretos que seu poder de influência consiga alcançar. Inclusive se a sua barreira é financeira, a dica tem nome e sobrenome e chama-se educação financeira.

O programa também comprovou outro ponto, principalmente com as masterclass que contaram com líderes globais, como a presidente do BRICS WBA ZA, Lebogang Zulu, sessões de coaching com o professor Nkembo Kiala, da African Leadership Academy, conexões com redes locais, como HerPower África e Women in Tech África do Sul: fazer parte de uma rede global não significa só se beneficiar dela, mas também nutrir e fortalecer essa conexão para que outros também possam crescer. A Jess acredita que a troca de experiências e o networking intencional são aceleradores de carreira poderosos, e viabilizou a outras 20 mulheres pretas acesso ao networking estratégico dela. Agora, imagine se cada profissional preto que teve uma experiência internacional compartilhasse seus aprendizados, abrisse portas para outros e criasse pontes para mais oportunidades? A mudança seria gigante.

Cada conquista internacional de um profissional preto é uma vitória individual, mas também um movimento coletivo. Quando compartilhamos em nosso dia a dia informações sobre bolsas, mentorias, oportunidades de trabalho ou simplesmente dicas sobre como navegar num ambiente corporativo, estamos rompendo ciclos e criando novos caminhos e esta foi a maior reflexão que consegui obter desta experiência: não desistir de mudar o mundo, mesmo que o escopo tenha que ser revisto. O A-Experience não é somente um programa, é um movimento de escopo revisitado adaptado a um presente que não está tão favorável à diversidade corporativa. Este movimento busca construir uma rede internacional de mulheres negras em posições de liderança, capazes de inspirar mudanças e promover equidade no mundo corporativo.

O recado aqui é simples: não guarde só para você o que pode mudar a vida de outra pessoa. Jess Sandin fez este movimento, provando que é possível transformar experiências pessoais em legados coletivos. A troca fortalece, o compartilhamento potencializa, e o sucesso de um é a inspiração de muitos. Ubuntu: eu sou porque nós somos. E nós podemos estar em qualquer lugar.

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