A experiência de compra de mulheres negras em espaços de prestígio ganha mais leveza em lugares onde há representatividade. As micro-agressões que muitas delas sofrem — ao serem subestimadas, ignoradas ou receberem um mau atendimento, geram frustração. É especialmente doloroso quando essa mulher conquista poder aquisitivo para consumir o que deseja, mas ainda precisa lidar com o racismo, comprometendo um momento que deveria ser agradável para todas.

A pesquisa “Racismo no Varejo de Beleza de Luxo” revelou que, para 59% dos entrevistados, os atendentes são os principais responsáveis pelas experiências de discriminação. Como resultado, 52% dos consumidores negros desistem da compra, 54% não retornam à loja e 29% optam por comprar online.

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Ter vendedoras negras faz a diferença. “Eu não estou ali apenas para vender, estou para acolher, escutar e garantir que cada cliente negra se sinta pertencente”, explica Elisabete Souza da Silva, consultora de vendas da Sephora em Salvador. Ela relata como é gratificante perceber que clientes negras voltam à loja e a procuram, justamente por sentirem que há ali alguém que compreende não só os produtos, mas também suas necessidades e vivências. Nessas trocas, tanto a consultora quanto a cliente se sentem valorizadas.

Elisabete Souza da Silva, consultora de vendas da Sephora em Salvador – Foto: Reprodução

“Trabalhar em uma marca que valoriza a diversidade e a representatividade é, para mim, mais do que um emprego, é um espaço de afirmação. Como mulher negra, sei o quanto é importante nos vermos refletidas em todos os lugares, especialmente no universo da beleza. Isso influencia diretamente meu dia a dia, porque me sinto à vontade para ser quem sou, e isso se reflete no meu atendimento: natural, empático e verdadeiro”, detalha Elisabete. Segundo ela, é comum ver clientes retornando para serem atendidas por ela por se sentirem mais confortáveis e seguras. “Não é sobre aparência apenas, é sobre vivência compartilhada.”

A Gerente de Recursos Humanos da Sephora Brasil, Luciana Marcondes, comenta as estratégias da marca para garantir uma experiência que ainda é rara quando falamos da vivência de consumidores negros em espaços de prestígio. “Este é um tipo de experiência que vai além do produto: é sobre pertencimento, reconhecimento e negócio. Pessoas negras movimentam milhões no mercado de beleza. Quando o espelho reflete não só a beleza, mas também a identidade, a jornada de compra se transforma em um momento de cura e celebração”, detalha.

A Gerente de Recursos Humanos da Sephora Brasil, Luciana Marcondes – Foto: Divulgação

Luciana também destaca o poder da representatividade: “Ela gera conexão imediata. E muda tudo. Não só como colaboradora, mas também como consumidora de algumas marcas do grupo, é muito bom encontrar um consultor que entenda a textura do meu cabelo ou o produto certo para o meu tom de pele.”

Essa escuta qualificada também é praticada por Renata Helena de Azevedo, consultora de vendas da Sephora no Rio de Janeiro. “Vai muito além da estética. Saber que eu consigo ajudar alguém a revelar o cabelo natural, que antes era motivo de insegurança, ou mostrar que todas podemos usar um batom vermelho e nos sentir sensuais, é devolver a liberdade de se sentir bem na própria pele. Posso mostrar que podemos ousar, usar de tudo e estar em todos os lugares. Isso me dá muito orgulho do que faço.”

Renata Helena de Azevedo, consultora de vendas da Sephora no Rio de Janeiro.

Renata lembra da história de uma cliente que usava produtos que não gostava, com medo de mudar. A empatia da consultora, aliada ao conhecimento técnico, foi essencial. “Ela estava resistente a conhecer produtos novos. Eu sabia exatamente o motivo. Com muita conversa, ela foi se abrindo e percebendo que não precisava usar só blush laranja, que ela nem gostava. Saber que melhorei a relação dela com a beleza é desmistificar imposições e devolver a ela a segurança. É muito satisfatório.”

Principais dúvidas das clientes negras da Sephora

Ir a uma loja da Sephora em qualquer lugar do mundo é encontrar um espaço que investe na diversidade de produtos, seja por cor da pele, textura do cabelo ou idade. No Brasil, o país mais negro fora da África, atender à demanda de consumidores negros significa lidar com um público que só muito recentemente passou a ter produtos pensados para suas características.

Nesse sentido, a representatividade no ponto de venda ultrapassa o discurso cultural e se torna um diferencial de negócio. Consultoras que entendem a dor do cliente vendem mais, e antes de comprar, essas clientes se sentem mais seguras para tirar dúvidas quando veem diversidade no atendimento.

Mas afinal, quais são as dúvidas mais comuns? Elisabete, de Salvador, conta: “A maior dúvida está na tonalidade da base. Muitas ainda não sabem identificar o subtom da pele. Também perguntam muito sobre contorno e blush,  o que realça nossa pele sem apagar ou acinzentar.”

Em relação aos cabelos, ela aponta que a busca por definição para fios crespos e cacheados lidera os questionamentos. Renata, no Rio, complementa: “Muitas não sabem que a pele negra também tem subtom, e por isso não acham a cor ideal. E sempre perguntam qual o melhor pente, já que nosso cabelo tem diferentes texturas e, no geral, é mais fino.”

Para ela, o destaque de vendas entre clientes negras é a Fenty Beauty. “Não dá para falar de maquiagem para pele negra sem falar da Fenty. Ela revolucionou não só pela variedade de tons, mas por considerar subtons e texturas. Para pessoas negras, é a primeira marca de escolha.”

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